Segunda Palestra em Oak Grove,

Ojai, Califórnia

Talvez se lembrem de que ontem estive falando sobre o nascimento do conflito e como a mente busca solução para ele. Esta manhã quero tratar da ideia de conflito e desarmonia, e mostrar a absoluta futilidade de a mente tentar buscar uma solução para o conflito, pois a mera busca de solução não eliminará o conflito. Quando busca uma solução, um meio de dissolver o conflito, você simplesmente tentar sobrepor, ou colocar em seu lugar, um novo conjunto de ideias, um novo conjunto de teorias, ou tenta simplesmente fugir do conflito. Quando as pessoas desejam solução para seus conflitos, é isso que buscam.

Se observar, verá que, quando há conflito, você imediatamente busca uma solução para ele. Você quer encontrar uma saída daquele conflito, e geralmente a encontra; mas você não resolveu o conflito, apenas o modificou com um novo ambiente, uma nova condição, que por sua vez produzirão mais conflito. Portanto, examinemos toda essa ideia de conflito, de onde surge e o que podemos fazer com ele.

O conflito resulta do ambiente, não é verdade? Afinal, o que é ambiente? Quando é que você fica cônscio do ambiente? Somente quando há conflito e resistência nesse ambiente. Então, se observar, se examinar sua vida, verá que o conflito está sempre mudando, pervertendo, moldando sua vida; e a inteligência, que é a perfeita harmonia entre mente e coração, não faz parte da sua vida. Noutras palavras, o ambiente está continuamente moldando sua vida para a ação, e, naturalmente, dessa constante deformação, moldagem, perversão, nasce o conflito. Portanto, onde quer que haja esse constante processo de conflito, não pode haver inteligência. Mesmo assim, pensamos que, passando continuamente por conflitos, chegaremos a essa inteligência, essa plenitude, esse êxtase. Mas, pelo acúmulo de conflito, não podemos descobrir como viver inteligentemente; você só pode descobrir como viver inteligentemente quando compreende o ambiente que está criando conflito; e a mera substituição, isto é, a introdução de novas condições, não irá resolver o conflito. Mesmo assim, se observar, verá que, quando há conflito, a mente busca uma substituição. Dizemos que é a hereditariedade, as condições econômicas, o ambiente anterior, ou afirmamos nossa crença em carma, reencarnação, evolução; portanto, estamos tentando dar desculpas para o conflito presente em que a mente foi apanhada, em vez de tentarmos descobrir qual a causa do próprio conflito, o que significaria examinar a importância do ambiente.

O conflito, então, só pode existir entre o ambiente – ambiente significando condições econômicas e sociais, dominação política, vizinhos – entre tal ambiente e o resultado do ambiente, que é o “eu”. O conflito só pode existir enquanto houver a reação ao ambiente que produz o “eu”, o ego. A maioria das pessoas não tem consciência desse conflito – o conflito entre o seu ego, que não passa de resultado do ambiente, e o próprio ambiente. Poucos têm consciência dessa batalha contínua. A pessoa passa a ter consciência desse conflito, dessa desarmonia, dessa luta entre a falsa criação do ambiente, que é o “eu”, e o próprio ambiente, somente por meio do sofrimento. Não é assim? É só por meio de sofrimento agudo, dor aguda, desarmonia aguda, que você fica cônscio do conflito.

Que acontece quando você fica cônscio do conflito? Que acontece quando, naquela intensidade de sofrimento, você fica totalmente cônscio da batalha, da luta que se trava? A maioria das pessoas quer um alívio imediato, uma resposta imediata. Elas querem proteger-se do sofrimento e, assim, encontram vários meios de fuga, os quais mencionei ontem, tais como religiões, diversões, futilidades, e as muitas misteriosas avenidas de fuga que havemos criado com o nosso desejo de nos protegermos dessa luta. O sofrimento faz a pessoa ter consciência desse conflito, mas não levará o homem àquela satisfação, àquela riqueza, àquela plenitude, àquele êxtase da vida, porque, afinal, o sofrimento só consegue despertar a mente para maior intensidade. E, quando a mente fica aguçada, ela então começa a questionar o ambiente, as condições, e, nesse questionamento, a inteligência está em ação; e é só a inteligência que levará o homem à plenitude de vida, à descoberta da importância do sofrimento. A inteligência começa a funcionar no momento em que o sofrimento se intensifica, quando mente e coração já não estão fugindo pelas várias avenidas que vocês tão astutamente criaram, as quais são aparentemente muito razoáveis, factuais, reais. Se observar cuidadosamente, sem preconceito, verá que, enquanto houver fuga, não estará resolvendo, não estará enfrentando face a face o conflito, e, portanto, seu sofrimento é somente uma acumulação de ignorância. Noutras palavras, quando a pessoa deixa de fugir pelos canais costumeiros, então, nessa intensidade de sofrimento, a inteligência começa a funcionar.

Por favor, não quero dar-lhes exemplos e símiles, pois quero que reflitam sobre o assunto; se eu der exemplos, terei feito todo o trabalho de reflexão, e vocês, apenas escutado. Porém, se começarem a pensar no que estou dizendo, verão, observarão por si mesmos, como a mente, acostumada a tantas substituições, autoridades, fugas, nunca chega a tal ponto de intenso sofrimento que obrigue a inteligência a funcionar. E é só quando a inteligência está funcionando plenamente que pode haver dissolução completa da causa do conflito.

Sempre que haja falta de compreensão do ambiente, haverá necessariamente conflito. O ambiente gera o conflito, e, enquanto não compreendermos o ambiente, as condições, as vizinhanças, e estivermos apenas buscando substituições para essas condições, estamos fugindo de um conflito e encontrando outro. Porém, se naquela intensidade de sofrimento que traz consigo um conflito em sua plenitude, se, nesse estado, começarmos a questionar o ambiente, então entenderemos o valor verdadeiro do ambiente, e a inteligência funciona, então, naturalmente. Até aqui, a mente tem-se identificado com conflito, com ambiente, com fugas, e, portanto, com sofrimento; isto é, você diz: “Eu sofro.” Por outro lado, naquele estado de intenso sofrimento, naquela intensidade de sofrimento em que já não há fuga, a própria mente se torna inteligência.

Noutras palavras, enquanto estivermos buscando soluções, enquanto estivermos buscando substituições, buscando autoridades para descobrir a causa e aliviar o conflito, haverá obrigatoriamente identificação da mente com o particular. Por outro lado, se a mente estiver nesse estado de intenso sofrimento em que todas as avenidas de fuga estão bloqueadas, então a inteligência será despertada, funcionará natural e espontaneamente.

Por favor, se fizerem um experimento assim, verão que não estou lhes comunicando teorias, mas algo com o que podem trabalhar, algo prático. Vocês têm uma profusão de ambientes, que lhes foram impostos pela sociedade, pela religião, pelas condições econômicas, pelas distinções sociais, pela exploração e pelas opressões políticas. O “eu” foi criado por essa imposição, por essa compulsão; existe o “eu” em você que luta contra o ambiente e, assim, há conflito. Não adianta criar um novo ambiente, pois a mesma coisa continuará a existir. Mas, se nesse conflito houver dor e sofrimento conscientes – e sempre há sofrimento em todo conflito, e somente o homem quer fugir dessa batalha e, por isso, busca substitutos – se nessa agudeza de sofrimento, você parar de buscar substitutos e realmente encarar os fatos, verá que a mente, que é um somatório de inteligência, começa a descobrir o verdadeiro valor do ambiente, e, então, você compreenderá que a mente está livre do conflito. Na própria agudeza do sofrimento reside a sua dissolução. Portanto, aí está a compreensão da causa do conflito.

Precisamos também ter em mente que aquilo que chamamos de acúmulo de dores não leva à intensidade; tampouco a multiplicação de sofrimento leva à sua própria dissolução, pois a intensidade da mente em sofrimento só acontece quando a mente deixa de fugir. E nenhum conflito despertará esse sofrimento, essa agudeza de sofrimento, quando a mente está tentando fugir, pois na fuga não há inteligência.

Antes de responder às perguntas que me foram encaminhadas, quero resumir essa questão. Primeiro, todos estão emaranhados em sofrimento e conflito, mas a maioria das pessoas não tem consciência desse conflito; elas se limitam a buscar substituições, soluções e meios de fuga. Ao passo que, se parassem de fugir e começassem a questionar o ambiente que gera esse conflito, então a mente se tornaria penetrante, viva, inteligente. Nessa intensidade, a mente se torna inteligente e, assim, percebe o inteiro valor e a importância do ambiente que dá ensejo ao conflito.

Por favor, estou certo de que metade de vocês não compreende essa questão, mas isso não importa. O que podem fazer, se o desejarem, é investigar o assunto e ver se o que estou dizendo não é verdadeiro. Mas investigar isso não é intelectualizá-lo, isto é, sentar-se e fazer o assunto desaparecer através do intelecto. Para descobrirem se o que estou dizendo é verdadeiro, precisam praticá-lo, e, para praticá-lo, precisam questionar o ambiente. Noutras palavras, se vocês estão em conflito, precisam naturalmente questionar o ambiente, mas a maioria das mentes tornou-se de tal modo pervertida que não tem consciência de que estão buscando soluções, meios de fuga, através de suas maravilhosas teorias. Elas raciocinam perfeitamente, mas seu raciocínio baseia-se na busca da fuga, da qual estão completamente alheias.

Assim, se houver conflito, e se vocês desejarem descobrir a causa desse conflito, naturalmente a mente deve descobri-lo mediante intensidade de pensamento e, por conseguinte, mediante o questionamento de tudo aquilo que o ambiente coloca em torno de vocês – família, vizinhos, religiões, autoridades políticas; e, pelo questionamento, haverá ação contra o ambiente. Há a família, o vizinho, o Estado, e, questionando a importância dessas coisas, vocês verão que a inteligência é espontânea, não é coisa a ser adquirida, nem coisa a ser cultivada. Vocês terão semeado a semente da consciência, e isso produz a flor da inteligência.

Interrogante: O senhor diz que o “eu” é produto do ambiente. Isso significa que se poderia criar um ambiente perfeito, que não ensejaria o desenvolvimento da consciência do “eu”? Em caso positivo, a perfeita liberdade da qual o senhor fala seria uma questão de criar o ambiente correto. Está certo?

Vozes partindo do auditório: “Não!”

Krishnamurti: Um minuto! Há possibilidade de existir um ambiente correto, perfeito? Não há. As pessoas que responderam “não”, não examinaram a questão completamente; então, vamos raciocinar juntos, vamos explorar este assunto cabalmente.

O que é ambiente? O ambiente foi criado, toda esta estrutura humana foi criada por meio dos medos, anseios antigos, esperanças, desejos, realizações humanas. Vocês não podem construir um ambiente perfeito porque cada um está criando, de acordo com suas fantasias e desejos, novos conjuntos de condições; porém, tendo uma mente inteligente, vocês podem abrir caminho através de todos esses falsos ambientes e, portanto, ser livres de toda a consciência do “eu”. Por favor, a consciência do “eu”, o sentimento de “meu, minha”, é resultante do ambiente, não é verdade? Penso não ser necessário discutir isso porque é bastante óbvio.

Se o Estado lhe tiver dado uma casa e tudo o que você desejava, não haveria necessidade da “minha” casa – pode haver algum outro sentimento de “meu, minha”, mas estamos discutindo o particular. Como esse não foi o caso em relação a vocês, existe o sentimento de “meu, minha”, existe possessividade. Isso resulta do ambiente, esse “eu” nada é senão a falsa reação ao ambiente. Por outro lado, se a mente começar a questionar o próprio ambiente, já não há reação ao ambiente. Portanto, não estamos preocupados com a possibilidade de jamais haver um ambiente perfeito.

Afinal, o que seria um ambiente perfeito? Cada pessoa lhe dirá o que, para ela, é um ambiente perfeito. O artista dirá uma coisa, o financista dirá outra, a atriz de cinema, outra; cada pessoa exige um ambiente perfeito que a satisfaça, isto é, que não crie conflito nela. Portanto, não pode existir um ambiente perfeito. Mas, havendo inteligência, então o ambiente não tem valor, não tem importância, pois a inteligência fica livre das circunstâncias e funciona plenamente.

A questão não é se podemos criar um ambiente perfeito, mas sim como despertar aquela inteligência que será livre do ambiente, seja ele imperfeito ou perfeito. Digo que vocês podem despertar essa inteligência questionando o inteiro valor de qualquer ambiente em cujas malhas sua mente estiver presa. Então vocês verão que ficam livres de qualquer ambiente que seja, pois então estarão funcionando inteligentemente, e não sendo distorcidos, pervertidos, moldados pelo ambiente.

Interrogante: Por certo o senhor não pode querer dizer o que suas palavras parecem transmitir. Quando vejo a imoralidade desenfreada no mundo, sinto intenso desejo de combater essa imoralidade e todo o sofrimento por ela criado na vida dos meus semelhantes. Isto resulta em enorme conflito, pois, quando tento ajudar, sou muitas vezes confrontado com cruel oposição. Como, então, pode o senhor dizer que não há conflito algum entre o falso e o verdadeiro?

Krishnamurti: Ontem eu disse que só pode haver luta entre duas coisas falsas: conflito entre o ambiente e o resultado do ambiente, que é o “eu”. Entre esses dois há inúmeras avenidas de fuga que o “eu” criou, as quais chamamos de vício, bondade, moralidade, padrões morais, medos, e todos os muitos opostos; e a luta só pode existir entre os dois, entre a falsa criação do ambiente, que é o “eu”, e o ambiente propriamente dito. Mas não pode haver luta entre a verdade e aquilo que é falso. Certamente isso é óbvio, não é? O senhor pode sofrer oposição cruel porque o outro homem é ignorante. Isso não significa que o senhor não precise lutar – mas não pressuponha a justeza da luta. Por favor, o senhor sabe que há um modo natural de fazer as coisas, um modo espontâneo, doce, de fazer as coisas, sem essa justeza agressiva e cruel.

Primeiramente, para lutar, você precisa saber contra o que está lutando; portanto, precisa haver compreensão do que é fundamental, e não das divisões entre as coisas falsas. Estamos tão cônscios, estamos tão completamente cônscios das divisões entre as coisas falsas, entre os produtos do ambiente, que os combatemos, que os queremos reformar, modificar, alterar, sem mudar fundamentalmente toda a estrutura da vida humana. Noutras palavras, ainda queremos preservar a consciência do “eu”, que é a falsa reação ao ambiente; queremos preservar isso e ainda queremos mudar o mundo. Isto é, você quer ter sua própria conta bancária, seus bens, quer manter o seu senso de “meu, minha”, a ainda quer mudar o mundo para que não haja essa ideia de “meu, minha” e “seu, sua”.

Então o que a pessoa precisa fazer é descobrir se está lidando com o fundamental, ou apenas com o superficial. E, para mim, o superficial existirá enquanto você estiver preocupado apenas com a mudança do ambiente para aliviar o conflito. Isto é, você ainda deseja aferrar-se à consciência do “eu” como “meu, minha”, mas também deseja alterar as circunstâncias para que não conflitem com esse “eu”. A isso eu chamo de pensamento superficial, que resulta naturalmente em ação superficial. Mas, se você pensar de modo fundamental, isto é, se questionar o próprio resultado do ambiente, que é o “eu”, e, assim, questionar o próprio ambiente, então estará agindo de modo fundamental, e, portanto, duradouro. E nisso há um êxtase, nisso há uma alegria que você agora não conhece porque tem medo de agir de modo fundamental.

Interrogante: Ontem, em sua palestra, o senhor falou do ambiente como movimento do falso. O senhor inclui, no conceito de ambiente, todas as criações da natureza, inclusive as formas humanas?

Krishnamurti: O ambiente muda continuamente, não é? Para a maioria das pessoas, ele não muda porque a mudança implica ajustamento contínuo e, por conseguinte, atenção contínua da mente; e a maioria das pessoas está preocupada com a condição estática do ambiente. No entanto, o ambiente está em movimento porque está fora do seu controle, e é falso enquanto você não compreende a sua importância.

Portanto, não estamos preocupados com a estabilidade, com a continuação de um ambiente que entendamos, porque, no momento em que o entendemos, já não há conflito. Noutras palavras, estamos buscando segurança emocional e mental, e estamos felizes enquanto essa segurança for assegurada e nunca questionamos o ambiente; e daí o constante movimento do ambiente é uma coisa falsa que está criando distúrbio em cada um. Enquanto houver conflito, isso indica que não havemos compreendido as condições colocadas ao nosso redor; e esse movimento de ambiente permanece falso enquanto não esquadrinharmos sua importância, e isso só podemos descobrir naquele estado de intensa consciência do sofrimento.

Interrogante: Está perfeitamente claro para mim que a consciência do “eu” resulta do ambiente, mas o senhor não vê que o “eu” não teve origem pela primeira vez nesta vida? Com base no que o senhor diz, é óbvio que a consciência do “eu”, sendo resultante do ambiente, precisa ter começado no passado distante e continuará no futuro?

Krishnamurti: Sei que esta é uma pergunta para me pegar na questão da reencarnação. Mas isso não importa. Vamos examinar a questão.

Antes de mais nada, vocês admitirão, se pensarem no assunto, que o “eu” resulta do ambiente. Para mim, não importa se é o ambiente passado ou o ambiente presente. Afinal, o ambiente é do passado também. Vocês fizeram algo que não compreenderam, fizeram algo ontem que não compreenderam, mas isso os persegue até que o compreendam. Não conseguem resolver esse ambiente passado até que estejam totalmente cônscios no presente. Portanto, não importa se a mente foi aleijada por condições passadas ou presentes. O que importa é que vocês devem compreender o ambiente e isso livrará a mente do conflito.

Algumas pessoas acreditam que o “eu” nasceu no passado distante e que continuará no futuro. Isso é irrelevante para mim, isso não tem importância alguma. Eu lhes mostrarei por quê. Se o “eu” é resultado do ambiente, se o “eu” é a própria essência do conflito, então a mente deve estar preocupada, não com a continuidade do conflito, mas com o libertar-se do conflito. Então, não importa se é o ambiente passado que está aleijando a mente, ou se o presente a está pervertendo, ou se o “eu” nasceu no passado distante. O que importa é que, nesse estado de sofrimento, nessa consciência, nessa intensidade de consciência do sofrimento, haja a dissolução do “eu”.

Isso traz à baila a ideia de carma. Você sabe o que isso significa: que você tem uma carga no presente, uma carga do passado no presente. Isto é, você traz consigo o ambiente do passado para o presente, e, por causa dessa carga, você controla o futuro, você dá forma ao futuro. Se você pensar nisso, tem de ser assim: que se a sua mente está pervertida pelo passado, naturalmente o futuro deve também estar distorcido, porque, se você não tiver compreendido o ambiente de ontem, ele tem de continuar hoje; e como você não compreende o hoje, naturalmente também não compreenderá o amanhã. Isto é, se você não tiver percebido a inteira significação de um ambiente ou de uma ação, isso perverte o seu julgamento do ambiente de hoje, da ação de hoje, nascida do ambiente, que perverterá você de novo amanhã. Então a pessoa fica presa nesse círculo vicioso, donde provém a ideia de contínuo renascimento, renascimento da memória, ou renascimento da mente, continuado pelo ambiente.

Mas eu afirmo que a mente pode livrar-se do passado, do ambiente passado, dos obstáculos passados, e, portanto, você pode ficar livre do futuro, porque, então, estará vivendo no presente de forma dinâmica, intensa, suprema. No presente está a eternidade, e, para compreender isso, a mente deve libertar-se da carga do passado; e, para libertar a mente do passado, é preciso haver um intenso questionamento do presente, em vez de pensar em como o “eu” continuará no futuro.

17/06/1934.