Diálogo em Saanen – 03/08/1974

Aprender no sentido real da palavra é possível apenas nesse estado de atenção, em que não existe compulsão externa ou interna. O pensar correto pode surgir apenas quando a mente não está escravizada pela tradição e memória. É a atenção que permite que o silêncio chegue à mente, que é a abertura da porta para a criação. Por isso a atenção é da maior importância. O conhecimento é necessário no nível funcional como um meio de cultivar a mente, e não como um fim em si mesmo. Estamos interessados, não com o desenvolvimento de apenas uma capacidade, como a do matemático, ou do cientista, ou músico, mas com o total desenvolvimento do aluno como ser humano. Como o estado de atenção pode surgir? Ele não pode ser cultivado pela persuasão, comparação, prêmio ou punição, todas elas formas de coerção. A eliminação do medo é o começo da atenção. O medo existirá enquanto houver uma urgência de ser ou de se tornar, o que é a busca de sucesso, com todas as suas frustrações e contradições tortuosas. Você pode ensinar concentração, mas atenção não pode ser ensinada do mesmo modo que você não pode possivelmente ensinar a liberdade do medo; mas podemos começar a descobrir as causas que geram medo, e compreendendo estas causas há a eliminação do medo. Então a atenção surge espontaneamente quando em torno do estudante existe uma atmosfera de bem estar, quando ele tem o sentimento de estar seguro, estar confortável, e está ciente da ação desinteressada que vem com o amor. O amor não compara, e assim a inveja e a tortura do ‘vir a ser’ cessam. 

O livro da vida

Como o estado de atenção vai surgir? Ele não pode ser cultivado através de persuasão, comparação, prêmio, ou punição, todas elas são formas de coerção. A eliminação do medo é o início da atenção. O medo existirá enquanto houver o anseio de ser ou de se tornar, que é a busca de sucesso, com todas as suas frustrações e tortuosas contradições. Você pode ensinar concentração, mas a atenção não pode ser ensinada, assim como não pode ensinar a liberdade do medo, e na compreensão destas causas está a eliminação do medo. Então a atenção surge espontaneamente quando em torno do aluno há uma atmosfera de bem estar, quando ele tem o sentimento de estar seguro, de estar confortável, e está consciente da ação desinteressada que vem com o amor. O amor não compara, e assim a inveja e a tortura de “se tornar” cessam. 

Trecho do livro “Palestras com Estudantes Americanos”

E, o que é atenção? Essa é a pergunta, senhor, não é? Isso lhe interessa? Mas, por favor, faça – não apenas diga sim e largue. O que significa atenção? Prestar atenção. Quando é um processo intelectual? O que queremos dizer com atenção, não a atenção do soldado, mas o que queremos dizer com atenção, estar atento? Quando você está atento? Você está atento apenas quando entrega sua mente, seu coração e todo o seu ser a alguma coisa. Quando eu escuto o choro daquela criança, se há alguma forma de resistência ao choro, ao barulho, eu fico desatento. Percebeu? Quando alguém dá atenção, a implicação é que seus nervos, seu corpo, seu coração e toda a sua mente dão atenção a algo de que você quer estar ciente. E nós nunca fazemos. Não sei se você já fez isso, deu atenção, digamos, àquela árvore. Isso significa o quê? Dar atenção significa não descrever a árvore, não ser apanhado na afirmação verbal sobre aquela árvore. Se eu usar a palavra ‘cipreste’ é uma distração, não é? Isso me impede de dar toda a minha atenção ao olhar para a árvore. Prestar atenção significa atender intelectualmente, emocionalmente, com os nervos, com os olhos, com os ouvidos, com tudo o que você tem. Assistir, olhar. E nunca fazemos isso porque vivemos em fragmentos. Somente quando há uma tremenda crise em nossa vida, talvez possamos dar atenção por alguns segundos e depois nos afastar dela, escapar dela. 

Agora, se alguém é sério e quer descobrir se existe uma realidade, Deus ou como você gosta de chamá-lo, não se olha para nenhuma autoridade, nenhum sacerdote, nenhuma crença; tudo isso é muito infantil e imaturo. É preciso dar toda a atenção para descobrir. Não se pode dar atenção, completamente, se, com essa descoberta, temos medo de perder o emprego. Não se pode dar total atenção para descobrir a verdade deste assunto se confiar em alguma crença, em algum condicionamento, ou no que as pessoas disseram. A pessoa tem que descartar isso. Não se pode pertencer a nenhuma sociedade, a nenhum grupo, a nenhuma cultura para descobrir. O que significa que devemos estar completamente sozinhos, interiormente sozinhos. Então vamos descobrir. Mas se não estivermos atentos ao sentido profundo e pleno dessa palavra, não poderemos chegar a essa realidade. 

INTERROGANTE: Você pode desenvolver a atenção pela prática? 

KRISHNAMURTI: Prática significa repetição, fazer algo repetidamente. Isso é atenção? Isso é mecânico, não é? Então, há duas coisas envolvidas, se você for sério; há desatenção e atenção. Agora, a maioria de nós está desatenta. E dizemos que é importante não estar desatento, mas estar atento. Então você quer começar a praticá-lo. Mas se diz: ‘olha, eu vou ficar atento, atento à minha desatenção’, você sabe o que isso significa, ser desatento? Aceitamos as coisas como são, nossa vida, a maneira como vivemos, as emoções feias, tudo o que há, na verdade. E ficar atento é estar atento à desatenção, não tentar ficar atento, porque isso envolve conflito, luta e, portanto, quando você pratica a atenção ela se torna mecânica. E isso deixa de ser atenção. Ao passo que se alguém está atento, consciente da desatenção, daí sim, florescerá a atenção. 

 

 

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Senhores, talvez quando dizem ‘sim’ ou ‘nós entendemos’, vocês podem querer dizer que entendem verbalmente, intelectualmente. A compreensão intelectual não é compreensão de forma alguma. É como entender uma série de palavras porque o orador por acaso fala inglês, portanto, quando você fala inglês também, entende as palavras, verbalmente; mas isso não é compreensão. A compreensão implica a visão instantânea como percepção e ação. É como quando você vê uma coisa perigosa, você age instantaneamente, não há argumento intelectual, verbal. Aqui temos um problema muito complexo; todos esses problemas são inter-relacionados e complexos, e se tornam muito mais complexos quando lidamos com eles intelectualmente, verbalmente. Como dissemos, a palavra não é a coisa, a descrição da coisa não é a coisa descrita. O que fizemos foi descrever e se aceitarmos meramente intelectualmente a descrição – a série de palavras que são meramente conceituais – então não há compreensão e, portanto, não há ação. A ação vem com a compreensão; elas são simultâneas, instantâneas – você não diz “eu entendo” primeiro e depois age. A própria compreensão é o fazer. Compreender é viver com “o que é”; o que não significa contentar-se com “o que é”, pelo contrário. Compreender é viver completamente.