A questão do Impossível

Vamos descobrir  o que significa analisar – o tentar descobrir a causa do conflito intelectualmente, verbalmente. Porque no mesmo instante em que você compreende o processo analítico, no momento em que vê sua verdade ou falsidade, você ficará completamente livre dele, para sempre. Mas essa compreensão significa que seus olhos, sua mente e seu coração percebem de imediato a verdade desse processo. Já nos habituamos a ele; estamos condicionados para dependermos da análise e das pressuposições filosóficas e psicológicas dos especialistas para procuramos compreender analiticamente, intelectualmente, o inteiro e complexo processo do viver. Com isso não queremos dizer o contrário: a sentimentalidade ou o emocionalismo. Mas se compreendermos com toda clareza a natureza e a estrutura do processo analítico, teremos então uma visão nova das coisas e poderemos dar uma direção totalmente diferente à energia que até agora foi aplicada à análise.   

Análise implica divisão – o analista e a coisa a analisar. Não importa se é você mesmo que está se analisando, ou se é um especialista – de qualquer forma, há divisão e, portanto, já temos o início do conflito. Só somos capazes de fazer coisas extraordinárias quando há uma grande paixão e, portanto, uma energia abundante; só essa paixão pode criar uma vida totalmente diferente, em nós mesmos e no mundo.  

Dentre os numerosos fragmentos em que nos achamos divididos, um assume autoridade como analista; a coisa que ele vai analisar é outro fragmento. Este analista se torna o censor; com seus conhecimentos acumulados ele avalia o bom e o mau, o certo e o errado, o que deve ou não ser reprimido, etc. De qualquer forma, o analista tem o dever de fazer análises completas, senão suas avaliações, suas conclusões, serão parciais. O analista tem que examinar cada pensamento – tudo o que for necessário – e isso leva tempo. A pessoa pode passar a vida inteira analisando – se ela tem dinheiro ou se apaixona pelo analista, etc. Você pode passar a vida inteira analisando, e no fim, estará no mesmo lugar de onde saiu e com mais coisas a analisar. 

Ao ver a estrutura inteira da análise, esse ver, na realidade, é uma negação, uma rejeição dela; ver o que a análise implica é a negação dessa ação, ou seja, ação completa. 

Trechos da palestra  em Frognerseteren – 09/09/1933

 

A sabedoria não é uma análise. Vocês sofrem, e pela análise tentam encontrar a causa; isto é, estão a analisar um evento morto, a causa que está já no passado. O que têm de fazer é encontrar a causa do sofrimento no próprio momento do sofrimento. Analisando o sofrimento vocês não encontram a causa; analisam somente a causa de um ato em particular. Depois dizem, “Compreendi a causa desse sofrimento.” Mas na realidade somente aprenderam a evitar o sofrimento; não libertaram a vossa mente dele. Este processo de acumulação, de aprendizagem através da análise de um ato particular, não confere sabedoria. A sabedoria só surge quando a consciência do “eu que é a criadora, a causa do sofrimento, é dissolvida. Estou a tornar isto difícil? Que acontece quando sofremos? Queremos alívio imediato, e, portanto, aceitamos qualquer coisa que nos é oferecida. Examinamo-lo superficialmente no momento, e dizemos que aprendemos. Quando essa droga se revela insuficiente no alívio que proporciona, tomamos outra, mas o sofrimento continua. Não é assim? Mas quando sofrem completamente, integralmente, não superficialmente, então algo acontece; quando todas as avenidas de fuga que a mente inventou foram compreendidas e bloqueadas, somente permanece o sofrimento, e então o compreenderão. Não há cessação através de uma droga intelectual. Conforme disse no outro dia, a vida para mim não é um processo de aprendizagem; contudo tratamos a vida como se ela fosse apenas uma escola para aprender coisas, apenas um sofrimento para aprender; como se tudo servisse somente como um meio para qualquer outra coisa. Dizem que se puderem aprender a contemplar enfrentarão a vida na íntegra, ao passo que eu digo que se a vossa ação for completa, isto é, se a vossa mente e coração estiverem em completa harmonia, então essa mesma ação é contemplação, é sem esforço.