Trecho do livro “Palestras com Estudantes Americanos”

O que é o amor? Lidamos com o medo, então juntos vamos agora considerar esta questão do amor. Você sabe que a palavra está carregada; foi abusada, distorcida, pisada e estragada pelo padre, pelo psicólogo e pelo político, por todos os jornais e revistas; eles escrevem e falam sobre isso sem parar. Então o que é amor? Não o que deveria ser, não o que é o ideal ou o supremo, mas qual é o amor que temos, que conhecemos? A coisa que chamamos de amor contém ciúme e ódio, e é assediada pela angústia; não estamos sendo cínicos, estamos meramente observando realmente o que é, o que é a coisa que chamamos de amor. E, o amor é ciúme, é o amor ódio? O amor é possessividade, dominação da esposa pelo marido ou do marido pela esposa? Você diz que ama sua família, seus filhos, mas ama? Se você realmente amasse seus filhos com todo o seu coração – não com suas mentes medíocres – você acha que haveria uma guerra amanhã? Se você realmente amasse seus filhos, você os educaria da maneira que você faz, os treinaria, os forçaria a se conformarem com a ordem estabelecida de uma sociedade podre? Se você realmente amasse seus filhos, você permitiria que eles fossem mortos ou horrivelmente mutilados em uma guerra, seja sua guerra ou de outra pessoa? Se você observar tudo isso, isso indica, não é, que não há amor algum? Assim, o amor não é sentimento ou algum disparate emocional e, acima de tudo, o amor não é prazer. 

 

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Por favor, siga isso muito de perto! O amor é pensamento porque para nós o amor é prazer, que é fruto do pensamento, que se nutre do pensamento. O prazer não está no momento real de ver o pôr do sol ou o ato sexual, mas o prazer é pensar nisso. Assim, o amor é engendrado pelo pensamento e também o amor é nutrido, sustentado e prolongado como prazer pelo pensamento, o que se você olhar bem de perto, é um fato óbvio. 

Então se pergunta: o amor é pensamento? Sabemos que o pensamento pode cultivar o prazer, mas não pode, sob nenhuma circunstância, cultivar o amor, assim como não pode cultivar a humildade. Assim, o amor não é prazer, nem é desejo – no entanto, você não pode negar nem o prazer nem o desejo. Quando você olha para o mundo, para a beleza de uma árvore ou de um lindo rosto, há um grande deleite, naquele momento específico, o pensamento interfere e lhe dá tempo e espaço para florescer como prazer. 

Quando entender a natureza e a estrutura do prazer em relação ao amor e quando você perceber isso – o que faz parte da meditação – descobrirá que o amor é algo completamente diferente, então realmente amará seus filhos, você criará um novo mundo. Quando chega a esse estado, quando conhece o amor, então faça o que quiser, não há nada de errado; é somente quando está buscando prazer – como você está agora – que tudo dá errado. 

J. Krishnamurti – Liberte-se do passado 

Neste mundo árido e despedaçado, não existe amor porque o prazer e o desejo desempenham os papeis preponderantes, no entanto, sem amor a vida diária não tem sentido. E você não pode ter amor se não houver beleza. A beleza não é algo que você veja – não é uma árvore bonita, um quadro bonito, um belo edifício ou uma bela mulher. Só há beleza quando seu coração e sua mente sabem o que é amor. Sem amor e sem esse senso de beleza, não há virtude, e você sabe muito bem que, faça o que fizer – melhore a sociedade, alimente os pobres – você só estará criando mais maldade, pois, sem amor, só há feiura e pobreza em seu coração e em sua mente. Mas, havendo amor e beleza, faça o que fizer, será certo, será apropriado. Se você sabe amar, então pode fazer o que quiser, pois isso resolverá todos os outros problemas.