Shigatoshi Takahashi

EMPRESÁRIO, TÓQUIO, JAPÃO

 

EB: O que Krishnamurti te ensinou sobre como administrar seus negócios?

ST: Antes de deparar-me com os ensinamentos de Krishnamurti, meu trabalho era me esforçar, competir com os outros, comparar-me com os outros, ter um objetivo, ter vontade de realizar alguma coisa, fazer algum tipo de plano, mas após entender o ensinamento de Krishnamurti achei todas essas coisas desnecessárias, porque todas são baseadas em atividades egocêntricas, em uma consciência egocêntrica, o que causa confusão ao lidarmos com negócios. Se pudermos nos libertar inteiramente disso, então poderemos nos envolver no negócio com o resultado mais satisfatório possível. É assim que opero meus negócios atualmente. Agora estou gostando muito mais do que antes.

EB: Se você não for competitivo e agressivo, não se aproveitarão de você?

ST: Eu pensava assim no início e me sentia muito desconfortável com o possível resultado. No entanto, uma vez que esquecemos nossas atividades egocêntricas e trabalhamos livres disso, o resultado se apresenta completamente diferente.

EB: As pessoas respondiam a você de maneira diferente?

ST: Naturalmente. Eu mudei, por que eles não podem mudar? Assim, quando eu mudei, descobri que eles também haviam mudado, e o resultado foi totalmente o contrário do que eu havia temido.

EB: Quais disciplinas religiosas você estudou e como Krishnamurti se difere delas?

ST: No meu caso, eu havia estudado o budismo, e nele nos pedem várias coisas. Por exemplo, meditar, que é o Zen, fazer jejum e em alguns casos pedem que façamos uma cópia inteira de um longo sutra. No meu caso, copiei todas as palavras de um grande sutra de nome Hokekyo com uma caneta de pincel japonesa. Levei aproximadamente um ano e meio escrevendo pelo menos por uma hora toda manhã. Eles também nos pedem para recitar algum tipo de sutra pela manhã, ou visitar um total de 88 templos. Porém, Krishnamurti não pedia que fizéssemos nada além de observar as coisas como elas são, perceber as coisas como elas são e aplicá-las em nosso cotidiano.

EB: Há uma grande tradição de meditação no Japão. Como isso difere do que Krishnamurti diz?

ST: Entende-se no budismo que durante a meditação nos sentamos em um canto em silêncio por horas de manhã ou à noite, ou até mesmo à meia noite. Durante a meditação, é preciso concentrar toda sua mente em algo, em algum objeto. Mas no caso de Krishnamurti, ele não nos pede nada assim. Pelo contrário, ele diz que podemos meditar por 24 horas ininterruptamente e podemos aplicar nossa meditação em tudo em nosso dia a dia, em nossas ações diárias através das quais podemos ver as coisas como elas realmente são. Essa é sua meditação. Esse é o modo como eu entendo sua meditação, o significado dela.

EB: Você ouviu K, leu seus livros. Isso mudou sua vida?

ST: Seus ensinamentos causaram muita mudança em mim. Anteriormente, eu era um homem de temperamento forte, era um homem presunçoso, era um homem muito egoísta. Porém, após me deparar com seus ensinamentos e estudá-los, tornei-me um homem não tão arrogante, tão autocentrado. Agora posso ser compassivo com quem quer que se relacione comigo.

EB: Você pode descrever o momento em que conheceu Krishnamurti pessoalmente e que impacto esse momento teve na sua compreensão de seus ensinamentos?

ST: Quando conheci Krishnamurti pessoalmente quis perguntar isso e aquilo, e esperava sua resposta para isso e aquilo respectivamente. Porém, quando o vi de verdade, instantaneamente descobri o quão desnecessários esses questionamentos e respostas eram, porque de repente percebi que eu estava coberto, cercado e envolto por uma forte onda de seu amor. Essa onda de amor, quando caiu sobre mim, fez com que eu desejasse nada além do que apertar sua mão, o que me fez sentir o calor de sua compaixão inigualável.