Michael Mendizza

CINEASTA, LOS ANGELES, CALIFÓRNIA

 

Vim primeiro como um aspirante. Um conjunto de fitas chegou, sem ser solicitado, e eu escutei todas as noites por mais de um ano. Elas eram envolventes. Eram novas, importantes e me confundiam. Então encontrei um livro que me levou a Ojai. Ele ainda estava vivo e falaria em breve sob os carvalhos.

Era primavera e as montanhas reluziam. Velhos senhores com bengalas, senhoras com chapéus de sol sentadas em cadeiras bem assinaladas, professores de meia idade e jovens hippies amontoados, escutando, batalhando. Deve ter sido em 1975 ou 1976. Eu estava sozinho, ansioso, e me sentei tão perto quanto pude.

Vim novamente no ano seguinte e ele estava lá, sentado naquela cadeira especial, abaixo das árvores, intenso, apaixonado, quase desesperado. No ano seguinte, enquanto eu caminhava bosque adentro, três câmeras de vídeo apareciam acima do público. Quando a palestra começou, uma vastidão misteriosa veio e, quando ela havia passado, abordei a mulher que havia feito os anúncios. Ofereci meus serviços como um jovem cineasta. Isso aconteceu seis meses antes de nos encontrarmos para discutir a importância de documentar os últimos anos da vida de Krishnamurti. Foi assim que tudo começou.

Na primavera seguinte, eu fui convidado para um almoço. Essa viria a ser minha primeira reunião de verdade, o mais perto que já havia estado. Nos sentamos todos ao redor de uma grande mesa. Relaxado, leve e muito humano ele ouviu, contou histórias e nos fez rir, nada parecido com o palestrante que eu havia visto no bosque. Embora eu tenha aprendido a amá-lo profundamente, nunca me senti familiar. Eu o chamava de Senhor, o que me pareceu próximo o suficiente.

Poucas semanas depois, com a câmera em mãos, eu estava em um avião a caminho da Colúmbia Britânica. Ele estava visitando uma escola. Pouco depois encontrei-me na Suíça filmando as palestras abertas. Então estava nos Países Baixos visitando pessoas e lugares que fizeram parte de sua juventude. A Inglaterra foi a próxima, e em seguida a Índia. Descobri na Índia que a maioria das pessoas era como aquelas que eu conhecera nos Estados Unidos e na Europa, cada um entendendo um pouco.

Eu ainda era um aspirante, seguindo o sol conforme ele afastava a escuridão. Tinha milhares de perguntas e todas pareciam importantes, mas nenhuma, eu achava, era profunda o suficiente ou verdadeira o suficiente para perturbá-lo. Ainda assim eu queria entender, não apenas um pouco, mas a verdade disso. Quando estava na Índia, escrevi em meu diário: “Para entender desse jeito, cada pensamento deve ser grande o suficiente para compreender todo o universo.” Então larguei minha caneta e, conforme o sol se punha atrás das antigas colinas do Vale de Rishi, uma súbita clareza surgiu e eu tive um vislumbre do que eu acredito que ele deve ter entendido por “liberdade do conhecido.” Com isso, minha busca chegou ao fim.

Por cinco anos a mulher, a que compartilhava minha paixão e acreditava em mim, trabalhou nesse filme. Quando ficou pronto, Krishnamurti sentou-se perto da tela e assistiu como uma criança, enquanto vislumbres de sua vida brilhavam. Era importante que ele aprovasse, e ele o fez. Nenhum de nós sabia na época que os próximos dois anos seriam seus últimos.

Poucas semanas antes da morte de Krishnamurti um segundo filme foi iniciado. Pessoas de todo o mundo haviam vindo se despedir. Alguns estavam dispostos a se sentar diante de minha câmera e descreveram os momentos que haviam compartilhado com aquele homem que se encontrava falecido. Viajamos novamente a Inglaterra e a Índia entrevistando aqueles que haviam sido tocados por sua vida e sua luz. Eu pesquisei através de seus arquivos e escritos pessoais na busca por alguma essência. O que foi isso tudo? Anos se passaram. O trabalho se tornou uma meditação, um mantra. O processo deu nova forma à minha vida e ao que eu faria com ela.

Um ano após sua morte, eu estava caminhando pelo terreno de Brockwood e aquela presença especial — a presença de Krishnamurti — me cercou. Então um outro sentimento surgiu. Muitos meses antes meu filho, na época com apenas sete ou oito meses de idade, estava dormindo. Minha esposa estava fora e ele acordou, com medo de ficar sozinho. Eu fui a ele, o peguei e ele olhou para mim. Totalmente seguro, ele adormeceu novamente. Aquele sentimento familiar irradiava dentro da criança enquanto estava relaxada em meus braços. Passou por mim e preencheu o quarto. Era vasto. Era carinho além do que podemos descrever, pairando.

Enquanto caminhava pelo interior da Inglaterra, compreendi algo sobre o homem e sua vida. Sem dar nome, ele estava lá no carinho infinito, irradiando de uma criança inocente. Os ensinamentos são apenas sinais de trânsito apontando para algo vivo, vital e expansivo. Quando ele pronunciava as palavras, ele costumava repousar sobre esse mar de carinho sem limites. Isso me cercou como as árvores e as montanhas que ele tanto amou. Foi imediato e se espalhou em todas as direções, aproximando-se antes que caísse no horizonte.

Ele disse uma vez, e sinto que é verdade… quando estivermos totalmente sozinhos, e essa quietude surgir como uma luz para nós mesmos, lá encontraremos Krishnamurti.