Alpino, Itália 

Amigos, antes de responder algumas perguntas que me foram feitas, farei uma pequena palestra sobre memória e tempo.

Quando vocês se encontram totalmente, completamente, sem influências ou preconceitos com uma experiência, ela não deixa cicatriz na memória. Cada um de vocês passa por experiências, e se vocês as encontrarem completamente, com todo o seu ser, então a mente não será presa na onda da memória. Quando sua ação é incompleta, quando vocês não encontram uma experiência completamente, mas através das barreiras da tradição, do preconceito ou do medo, então essa ação é seguida pela tortura da memória.

Enquanto houver essa cicatriz na memória, tem que existir a divisão do tempo em passado, presente e futuro. Enquanto a mente estiver presa à ideia de que a ação deve ser dividida em passado, presente e futuro, há identificação através do tempo e, portanto, uma continuidade na qual surge o medo da morte, o medo da perda do amor. Para compreender a realidade atemporal, a vida atemporal, a ação deve ser completa. Mas vocês não podem se conscientizar dessa realidade atemporal procurando por ela; vocês não podem adquiri-la perguntando: “Como posso obter essa consciência?”

Agora, o que é que causa a memória? O que é que os impede de agir completamente, harmoniosamente, ricamente em todas as experiências da vida? A ação incompleta surge quando a mente e o coração são limitados por obstáculos, por barreiras. Se a mente e o coração estiverem livres, então vocês encontrarão cada experiência completamente. Mas a maioria de vocês está rodeada por barreiras – as barreiras da segurança, da autoridade, do medo, do adiamento. E como vocês têm essas barreiras, vocês naturalmente agem dentro do limite delas e, portanto, são incapazes de agir completamente. Mas quando vocês se tornam conscientes dessas barreiras, quando vocês se conscientizam com seu coração e com sua mente no meio de uma crise, então essa consciência liberta sua mente, sem esforço, das barreiras que têm impedido sua ação completa.

Assim, enquanto houver conflito, haverá memória. Isto é, quando sua ação nasce da incompletude, então a memória dessa ação condiciona o presente. Tal memória produz conflito no presente e cria a ideia de coerência. Vocês admiram o homem que é coerente, o homem que estabeleceu um princípio e age de acordo com esse princípio. Vocês atribuem a ideia de nobreza e virtude a uma pessoa que é coerente. Agora, a coerência resulta da memória. Isto é, porque vocês não agiram completamente, porque não compreenderam o significado completo da experiência no presente, vocês estabelecem artificialmente um princípio segundo o qual vocês resolvem viver o amanhã. Portanto, sua mente está sendo conduzida, treinada, controlada pela falta de compreensão, que vocês chamam de “coerência”.

Agora, por favor, não vão para o outro extremo, para o oposto, e pense que vocês devem ser absolutamente incoerentes. Não estou pedindo que vocês sejam incoerentes; estou falando de vocês se libertarem do fetiche da coerência que vocês criaram, de se libertarem da ideia de que vocês devem se encaixar em um padrão. Vocês estabeleceram o princípio da coerência porque não compreenderam; da sua falta de compreensão vocês desenvolvem a ideia de que devem ser coerentes, e medem qualquer experiência que os confronte pela ideia que estabeleceram, pela ideia ou princípio que nasce apenas pela falta de compreensão.

Portanto, a coerência, o facto de viver de acordo com um padrão, existe enquanto sua vida tiver falta de riqueza, enquanto sua ação não for completa. Se vocês observarem sua própria mente em ação, verão que estão continuamente tentando ser coerentes. Vocês dizem: “Eu devo”. Ou: “Eu não devo”.

Espero que vocês tenham compreendido o que eu disse nas minhas conversas anteriores; caso contrário, o que eu disser hoje terá pouco significado para vocês.

Repito que essa ideia de coerência nasce quando vocês não vão ao encontro da vida integralmente, totalmente, quando vocês vão ao encontro da vida através da memória. E quando vocês seguem constantemente um padrão, vocês estão apenas aumentando a coerência dessa memória. Vocês criaram a ideia de coerência através da sua recusa em encontrar livremente, abertamente e sem preconceitos cada experiência da vida. Ou seja, vocês estão sempre encontrando experiências parcialmente, e daí surge o conflito.

Para superar esse conflito, vocês dizem que devem ter um princípio. Vocês estabelecem um princípio, um ideal, e se esforçam em condicionar sua ação por ele. Isto é, vocês estão constantemente tentando imitar; vocês estão tentando controlar a sua experiência diária, as ações do seu quotidiano através da ideia de coerência. Mas quando vocês realmente compreenderem isso, quando compreenderem com seu coração e sua mente, com seu ser completo, então vocês verão a falsidade da imitação e da coerência. Quando tiverem ciência disso, vocês começarão a libertar sua mente, sem esforço, desse hábito de coerência durante tanto tempo estabelecido, embora isso não signifique que vocês devam se tornar incoerentes.

Para mim, portanto, a coerência é um sinal de memória, memória essa que resulta da falta de verdadeira compreensão da experiência. E essa memória cria a ideia de tempo; cria a ideia de presente, passado e futuro, sobre os quais se baseiam todas as nossas ações. Consideramos o que fomos ontem, o que seremos amanhã. Tal ideia sobre o tempo existirá enquanto a mente e o coração estiverem divididos. Enquanto a ação não nascer da completude, tem que haver a divisão do tempo. O tempo é apenas uma ilusão, é apenas a incompletude da ação.

Uma mente que está tentando se moldar a um ideal para ser coerente com um princípio, naturalmente cria conflito, porque constantemente se limita na ação. Nisso não há liberdade; não há compreensão da experiência. Ao encontrar a vida dessa maneira, vocês a encontram apenas parcialmente; vocês estão escolhendo e nessa escolha vocês perdem todo o significado da experiência. Vocês vivem de forma incompleta e, portanto, procuram conforto na ideia de reencarnação. Por isso, a sua questão: “O que acontecerá comigo quando eu morrer?” Como vocês não vivem plenamente na sua vida diária, dizem: “Eu devo ter um futuro, mais tempo para viver completamente”.

Não procurem remédio para essa incompletude, mas tornem-se conscientes da causa que os impede de viver completamente. Vocês descobrirão que essa causa é a imitação, a conformidade, a coerência, a busca por segurança que dá origem à autoridade. Tudo isso os impede da completude de ação porque, sob a sua limitação, a ação torna-se apenas uma série de conquistas que conduzem a um fim e, portanto, a conflitos e sofrimentos contínuos.

Somente quando vocês encontrarem as experiências sem barreiras é que vocês descobrirão a alegria contínua; então vocês não serão mais sobrecarregados pelo peso da memória que impede a ação. Então, vocês viverão na completude do tempo. Isso para mim é a imortalidade.

Interrogante: A meditação e a disciplina da mente ajudaram-me muito na vida. Agora, ao ouvir seus ensinamentos, estou muito confuso, porque eles descartam qualquer autodisciplina. A meditação, da mesma forma, não tem nenhum significado para você? Ou você tem uma nova forma de meditação para nos oferecer?

Krishnamurti: Conforme já expliquei, onde há escolha tem que haver conflito, porque a escolha é baseada no desejo. Onde há carência não há discernimento e, por isso, a sua escolha apenas cria mais obstáculos. Quando você sofre, você quer felicidade, conforto, quer fugir do sofrimento; mas como a carência impede o discernimento, você aceita cegamente qualquer ideia, qualquer crença que pense que lhe dará alívio do conflito. Você pode pensar que raciocina ao fazer sua escolha, mas não o faz.

Desta forma, você estabeleceu ideias que você chama de nobres, dignas, admiráveis, e você força sua mente a se conformar com tais ideias. Ou você se concentra em um quadro ou imagem em particular e, desse modo, cria uma divisão em sua ação. Você tenta controlar sua ação através da meditação, através da escolha. Se você não entender o que estou dizendo, por favor me interrompa para que possamos discutir o assunto.

Como eu disse, quando você sente tristeza, você imediatamente começa a procurar o oposto. Você quer ser consolado e, na sua busca por consolo, você aceita qualquer conforto, qualquer paliativo que lhe dê satisfação momentânea. Vocês podem pensar que raciocinam antes de aceitar tal conforto, tal alívio, mas na realidade vocês aceitam cegamente, sem raciocinar, pois onde há carência, não pode haver verdadeiro discernimento.

Agora, a meditação para a maioria das pessoas é baseada na ideia de escolha. Na Índia, essa ideia é levada ao extremo. Lá, o homem que pode se sentar quieto por um longo período, habituando-se continuamente a uma ideia, é considerado espiritual. Mas, na verdade, o que ele faz? Ele descartou todas as ideias, exceto aquela que ele escolheu deliberadamente, e sua escolha lhe dá satisfação. Ele treinou sua mente para se concentrar nessa única ideia, nessa única imagem; ele controla e, assim, limita sua mente e espera superar conflitos.

Agora, para mim, essa ideia de meditação – é claro que não a descrevi em detalhes – é totalmente absurda. Não é realmente meditação, é uma hábil fuga do conflito, um feito intelectual que nada tem a ver com a vida verdadeira. Vocês treinaram sua mente para se conformarem a uma certa regra, de acordo com a qual esperam ir ao encontro da vida. Mas vocês nunca encontrarão a vida enquanto se mantiverem presos num molde. A vida passará por vocês, porque vocês já limitaram suas mentes pela escolha de vocês.

Por que você sente que deve meditar? Você quer dizer com meditação, concentração? Se você está realmente interessado, então você não luta, não se força a concentrar. Somente quando você não está interessado é que você tem que se forçar de forma bruta e violenta. Mas, ao se forçar, você destrói sua mente, e então sua mente deixa de ser livre, bem como sua emoção. Ambas são mutiladas. Eu afirmo que há uma alegria, uma paz na meditação sem esforço, e isso só pode vir quando a mente está livre de toda escolha, quando a mente não está mais criando uma divisão na ação.

Tentamos treinar a mente e o coração para seguir uma tradição, um modo de vida, mas através desse treinamento não compreendemos, apenas criamos opostos. Agora, não estou dizendo que a ação deve ser impetuosa, caótica. O que eu digo é que quando a mente está presa na divisão, essa divisão continuará a existir mesmo que vocês se esforcem para suprimi-la através da coerência de um princípio, mesmo que vocês tentem dominá-la e superá-la estabelecendo um ideal. O que vocês chamam de vida espiritual é um esforço contínuo, um esforço incessante, através do qual a mente tenta se apegar a uma ideia, a uma imagem. É uma vida, portanto, que não é plena, completa.

Após ouvir essa conversa poderão dizer: “Disseram-me que eu deveria viver plenamente, completamente, que não devo ficar preso a um ideal, a um princípio, que não devo ser coerente, portanto, farei o que gosto”. Agora, essa não é a ideia que desejo deixar com vocês nesta última conversa. Não estou falando de ações meramente impetuosas, impulsivas, impensadas, estou falando de ação que é completa, que é êxtase. E eu digo que vocês não podem agir completamente forçando sua mente, moldando vigorosamente sua mente, vivendo em conformidade com uma ideia, um princípio ou meta.

Vocês já consideraram a pessoa que medita? É uma pessoa que escolhe. Ela escolhe aquilo que gosta, aquilo que lhe dará o que ela chama de ajuda. Portanto, o que ela está realmente procurando é algo que lhe dê conforto, satisfação – uma espécie de paz morta, uma estagnação. E, ainda assim, o homem que é capaz de meditar, chamamos de um grande homem, um homem espiritual.

Todo nosso esforço está relacionado com essa sobreposição do que chamamos de ideias corretas sobre o que consideramos ideias erradas, e através dessa tentativa criamos continuamente uma divisão na ação. Não libertamos a mente da divisão, não compreendemos que essa escolha contínua nascida da carência, do vazio, do desejo, é a causa dessa divisão. Quando experimentamos um sentimento de vazio, queremos preencher esse vazio, esse vácuo; quando experimentamos a incompletude, queremos fugir dessa incompletude que nos causa sofrimento. Para isso, inventamos uma satisfação intelectual que chamamos de meditação.

Agora, vocês dirão que não lhes dei nenhuma instrução construtiva ou positiva. Cuidado com o homem que lhes oferece métodos positivos, pois aquilo que ele está dando é apenas o seu padrão, o seu molde. Se vocês realmente viverem, se tentarem libertar a sua mente e seu coração de todas as limitações – não através da autoanálise e introspecção, mas através da consciência na ação – então os obstáculos que agora os impedem da completude da vida desaparecerão. Essa consciência é a alegria da meditação – meditação que não é o esforço de uma hora, mas que é ação, que é a própria vida.

Você me pergunta: “Você tem uma nova forma de meditação para nos oferecer?” Ora, vocês meditam para alcançar um resultado. Vocês meditam com a ideia de ganho, da mesma maneira que vivem com a ideia de alcançar uma elevação espiritual, um auge espiritual. Vocês podem esforçar-se ao máximo por essa elevação espiritual; mas asseguro-lhes que, embora pareça terem-na alcançado, vocês continuarão a experimentar o sentimento de vazio. A sua meditação não tem valor em si mesma, bem como a sua ação não tem valor em si mesma, porque estão constantemente à procura de uma culminação, de uma recompensa. Somente quando sua mente e seu coração estiverem livres dessa ideia de conquista, dessa ideia nascida do esforço, da escolha, do ganho – somente quando estiverem livres dessa ideia, eu afirmo, é que há uma vida eterna que não é uma finalidade, mas sim uma imortalidade, uma constante renovação.

Interrogante: Reconheço um conflito em mim, mas esse conflito não cria uma crise, uma chama consumidora dentro de mim, impelindo-me a resolver esse conflito e realizar a verdade. Como você agiria no meu lugar?

Krishnamurti: O interrogador diz que reconhece o conflito dentro dele, mas que esse conflito não lhe causa qualquer crise e, portanto, nenhuma ação. Tenho a impressão de que esse é o caso da maioria das pessoas. Você pergunta o que deve fazer. O que quer que você tente fazer, você faz intelectualmente e, portanto, falsamente. Somente quando você estiver realmente disposto a enfrentar seu conflito e a compreendê-lo completamente, que você experimentará uma crise. Mas como essa crise exige ação, a maioria de vocês não está disposta a enfrentá-la.

Eu não posso empurrá-lo para a crise. O conflito existe em você, mas você quer fugir desse conflito; você quer encontrar um meio pelo qual possa evitá-lo, adiá-lo. Portanto, quando você diz: “Não posso resolver meu conflito em uma crise”, as suas palavras apenas mostram que sua mente está tentando evitar o conflito – e a liberdade que resulta de enfrentá-lo completamente. Enquanto sua mente estiver cuidadosamente, espertamente evitando o conflito, enquanto estiver à procura de conforto através da fuga, ninguém poderá ajudá-lo a completar a ação, ninguém poderá empurrá-lo para uma crise que resolverá seu conflito. Quando você perceber isso uma vez – não perceber apenas intelectualmente, mas também sentir a verdade disso – então seu conflito criará a chama que o consumirá.

Interrogante: Isso foi o que deduzi ao ouvi-lo: a pessoa só se torna consciente em uma crise; uma crise envolve sofrimento. Portanto, se uma pessoa deve estar consciente o tempo todo, deve viver continuamente num estado de crise, ou seja, num estado de sofrimento e agonia mental. Essa é uma doutrina de pessimismo, não da felicidade e êxtase de que você fala.

Krishnamurti: Receio que você não tenha ouvido o que venho dizendo. Você sabe, há duas formas de ouvir; há a mera escuta de palavras, como você ouve quando não está realmente interessado, quando não está tentando sondar a profundidade de um problema; e há a escuta que capta o significado real do que está sendo dito, a escuta que requer uma mente penetrante e alerta. Creio que realmente você não ouviu o que venho dizendo.

Em primeiro lugar, se não há conflito, se sua vida não tem crises e você está perfeitamente feliz, então por que se preocupar com conflitos e crises? Se você não está sofrendo, então fico satisfeito! Todo o nosso sistema de vida está organizado para que você possa fugir do sofrimento. Mas o homem que enfrenta a causa do sofrimento e, portanto, fica livre do sofrimento, vocês o chamam de “pessimista”.

Explicarei outra vez brevemente o que venho dizendo para que vocês compreendam. Cada um de vocês está consciente de um grande vácuo, de um vazio dentro de vocês e, estando conscientes desse vazio, vocês tentam preenchê-lo ou fugir dele; e ambos os atos equivalem à mesma coisa. Vocês escolhem aquilo que preencherá esse vazio, e essa escolha vocês chamam de “progresso” ou “experiência”. Mas sua escolha baseia-se na sensação, no desejo e, portanto, não envolve discernimento, inteligência e sabedoria. Vocês escolhem hoje aquilo que lhes dá uma satisfação maior, uma sensação maior do que aquela que receberam da escolha de ontem. Portanto, o que vocês chamam de escolha é simplesmente sua maneira de fugir do vazio dentro de vocês e, portanto, vocês estão meramente adiando a compreensão da causa do sofrimento.

Assim, o movimento de tristeza em tristeza, de sensação em sensação, vocês chamam de “evolução”, de “desenvolvimento”. Um dia vocês escolhem um chapéu que lhes dê satisfação, no dia seguinte vocês se cansam dessa satisfação e querem outra – um carro, uma casa ou vocês querem o que vocês chamam de “amor”. Mais tarde, à medida que vocês se cansam deles, vocês querem a ideia ou a imagem de um Deus. Portanto, vocês progridem de querer um chapéu a querer um Deus, e nisso vocês pensam que fizeram um admirável avanço espiritual. No entanto, todas essas escolhas são baseadas apenas na sensação, e tudo o que vocês fizeram foi mudar os seus objetos de escolha.

Onde há escolha tem que haver conflito, porque a escolha se baseia no desejo, no desejo de preencher o vazio dentro de vocês ou de fugir desse mesmo vazio. Em vez de tentarem compreender a causa do sofrimento, vocês estão constantemente tentando vencer esse sofrimento ou fugir-lhe, o que é a mesma coisa. Mas eu digo, descubram a causa do seu sofrimento. Essa causa, vocês descobrirão, é a carência contínua, o desejo contínuo que cega o discernimento. Se vocês compreenderem isso – se compreenderem não apenas intelectualmente, mas com todo o seu ser – então sua ação estará livre da limitação da escolha; então vocês estão realmente vivendo, vivendo naturalmente, harmoniosamente, não individualisticamente, no caos total como agora. Se vocês viverem plenamente, a sua vida não resultará em discórdia, porque sua ação nasce da riqueza e não da pobreza.

Interrogante: Como posso conhecer a ação e a ilusão da qual ela brota se eu não sondar a ação e não examiná-la? Como podemos esperar conhecer e reconhecer nossas barreiras se não as examinarmos? Então, por que não analisar as ações?

Krishnamurti: Por favor, já que meu tempo é limitado, essa é a última questão que poderei responder.

Você já tentou analisar sua ação? Então, quando você estava analisando, essa ação já estava morta. Se você tentar analisar seu movimento quando estiver dançando, você acaba com esse movimento. Mas se o seu movimento nasce da completa atenção, da consciência total, então você sabe qual é o seu movimento na própria ação desse movimento. Você sabe sem tentar analisar. Deixei isso claro?

Eu digo que se vocês analisarem a ação, vocês nunca agirão; a sua ação se tornará lentamente restringida e finalmente resultará na morte da ação. A mesma coisa se aplica à sua mente, ao seu pensamento, à sua emoção. Quando vocês começam a analisar, vocês põem fim ao movimento; quando vocês tentam dissecar um sentimento intenso, esse sentimento morre. Mas se vocês estiverem conscientes com o coração e a mente, se estiverem totalmente conscientes na sua ação, então conhecerão a fonte de onde a ação brota. Quando agimos, estamos agindo parcialmente, não estamos agindo com todo o nosso ser. Portanto, em nossa tentativa de equilibrar a mente contra o coração, em nossa tentativa de dominar um pelo outro, pensamos que devemos analisar nossa ação.

Agora, o que estou tentando explicar requer uma compreensão que não pode ser dada a vocês por meio de palavras. Somente no momento da verdadeira conscientização, vocês podem tomar consciência dessa luta pelo domínio; então, se vocês estiverem interessados em agir de forma harmoniosa, completa, vocês perceberão que sua ação foi influenciada pelo seu medo da opinião pública, pelos padrões de um sistema social, pelos conceitos da civilização. Então, vocês tornam-se conscientes dos seus medos e preconceitos sem os analisar; e no momento em que vocês se tornam conscientes na ação, esses medos e preconceitos desaparecem.

Quando vocês estão conscientes com sua mente e com seu coração da necessidade de ação completa, vocês agem harmoniosamente. Então, todos os seus medos, as suas barreiras, o seu desejo de poder, de conquista – tudo isso se revela, e as sombras da desarmonia desaparecem.

09/07/1933