Harry Wolfe

EMPRESÁRIO, LOS ANGELES, CALIFÓRNIA

EB: Sr. Wolfe, você disse que sua esposa te apresentou a Krishnamurti, levou-o para escutá-lo. Poderia descrever esse momento?

HW: Quando eu cheguei em casa após uma longa viagem a trabalho, a Sra. Wolfe sugeriu que fossemos a Ojai para ouvir a um ser humano muito bom. Eu disse, “Bem, Laura, eu prefiro jogar golfe do que sair para escutar palestras.” Você sabe que a maioria desses professores e palestras se baseia em religião ou coisas do tipo, e eu não tenho interesse por religião. Após me convencer de que eu deveria ir e de que eu poderia jogar golfe após a palestra, decidi ir com ela. Escutei profundamente, pois queria compreender completamente o que ele estava dizendo. Ele me prendeu de um jeito que eu não tinha como contestar nada do que ele dizia. Assim, após escutá-lo, ao invés de ir jogar golfe, eu realmente não estava no clima para jogar golfe, eu pensei, “Nós voltaremos amanhã, pois eu quero ouvi-lo novamente.” Então voltamos no dia seguinte e eu o escutei profundamente mais uma vez, não conseguindo contestar nada do que ele disse. Eu quis voltar na semana seguinte. Ele tinha minha atenção de forma que eu só queria ouvi-lo, e após a terceira semana eu quis uma entrevista, o que ele estava fazendo na época, por quinze minutos. Acho que isso foi em 1930. Os quinze minutos acabaram e eu disse, “Bem, acho melhor eu ir.” Ele disse, “Não, espere um momento, quero perguntar uma coisa, falar mais com você.” Eu falei sobre meu trabalho, expliquei como era corrupta a indústria do diamante, como os atacadistas enganavam os comerciantes e como não havia integridade no negócio, tanto no meu negócio quanto na indústria das joias. Eu concentrava meu negócio na indústria de diamantes, e as joias eram da mesma maneira. Eu falei sobre muitas coisas do tipo para ele, que se interessou pelo que eu tinha a dizer, e assim me deixou ficar. Ele colocou a mão sobre meu joelho e disse, “Espere um momento, está tudo bem.” Então continuamos a conversar, eu não me recordo exatamente o que eu tinha a dizer depois disso, mas ele percebeu que eu estava fazendo um balanço do que estava acontecendo em relação à corrupção…

EB: Parecia ser algo novo para ele?

HW: Bem, ele ficou surpreso por eu me interessar tanto por descobrir a situação dos negócios. Eu contei para ele que os diamantes, mais de 95% dos diamantes lapidados para o mercado mundial, são lapidados de maneira incorreta, o que chamamos de fraude no meio comercial. Porque o peso do chumbo na pedra, no pedaço de rocha, deveria ser removido. Eles querem uma pedra de dois quilates, e não de um quilate e meio. Veja bem, todo diamante tem cinquenta e oito faces, e essas pequenas faces são como pequenos espelhos, e se os ângulos geométricos desses pequenos espelhos estiverem no ângulo correto, é impossível refletir os raios de luz de volta para a superfície. É isso que produz a própria luz e beleza do diamante.

EB: Krishnamurti ficou surpreso ao ouvir que o negócio dos diamantes era tão corrupto?

HW: Sim, ele ficou surpreso.

EB: Você havia o escutado diversas vezes, qual foi sua reação ao encontra-lo pela primeira vez? Como você compararia as palestras daqueles dias com o que ele diz hoje?

HW: Bem, é difícil explicar. Variaram um pouco, mas o princípio é o mesmo. O cerne de seu ensinamento é praticamente o mesmo agora do que era naquela época. Palavras diferentes, apresentação diferente. Na verdade, eu ofereci quinhentos dólares a ele – naquela época isso era muito dinheiro – como um sinal de agradecimento pelo que ele havia feito por mim. Ele disse, “Não posso fazer nada por ninguém, você precisa fazê-lo.” Bem, percebi que comecei a pensar diferente, a agir de maneira diferente e a sentir-me de maneira diferente em relação aos seres humanos, percebendo como todos estão condicionados e como não são responsáveis pelo que fazem ou dizem, pois como poderíamos culpar um gravador por estar condicionado a tocar uma música? Então passei a ser um pouco mais tolerante com pessoas que querem tirar vantagem de mim, não as culpo, porque essa é a ordem do dia. Isso vale nos negócios, na lei, todo departamento das relações humanas é corrupto.

EB: Krishnamurti deve ter realmente impactado sua vida!

HW: Ah, sim, totalmente. Ele mudou a minha vida completamente. Eu larguei meu trabalho – larguei meu trabalho quando percebi que eu era o mesmo tipo de ser humano que todos os outros. Eu era corrupto. Estava tirando vantagem da confiança que as pessoas colocavam em mim ao vender para elas mais do que precisavam, ao fazer uso de técnicas de venda, eu percebi o que eu estava fazendo. Então eu larguei meu negócio. Veja, eu lidava com um tipo de diamante que a maioria dos joalheiros nem mesmo vê, um diamante que não é fraudado, de máxima beleza. Eu decidi que eu não tinha que vendê-los, eles comprariam se eu explicasse o que ele é. Então, tive que elaborar meus clientes, mostrando a diferença entre uma pedra que não havia sido cortada corretamente e uma pedra que havia sido cortada corretamente. Ganhei muito menos dinheiro, mas eu gostava de fazer negócios que não deturpassem o branco azul perfeito. Não existe tal coisa. É azul, ou branco, ou amarelo, ou rosa. Não há cores duplas, porque a cor de um diamante é determinada apenas pela cor do corpo, não pelo brilho da pedra. Nós costumávamos classificar nossas pedras exatamente da forma como eram – pela cor, pelo grau de clareza e pelo corte. O corte é o mais importante, porque é ele que dá luz.

EB: Você acha que seu negócio diminuiu?

HW: Ah, sim. Reduziu bastante. Eu ganhei menos dinheiro, mas eu gostei porque eu não tive que fazer pressão ou vender – as pessoas compravam. Há uma grande diferença.

EB: Você acha que teria chegado a esses sentimentos éticos, digamos, independentemente caso não houvesse conhecido Krishnamurti? Ou você teria continuado da mesma forma que antes?

HW: Acho que não. Ele me acordou para o fato que eu não era diferente dos outros. Eu era tão corrupto quanto qualquer um. E eu tinha que ver isso em mim mesmo – realmente ver, para enfim me libertar disso.

EB: E você viu isso instantaneamente?

HW: Ah, sim. Com certeza, não foi difícil.

EB: As pessoas frequentemente dizem que leva um certo tempo, e Krishnamurti sempre diz que pode ser instantâneo.

HW: É instantâneo. Você vê ou não vê. Caso você veja, não há razão para continuar. Você vê, e é isso. A verdade é instantânea.

EB: Então foi simplesmente a sua inteligência em ação. Você viu e agiu.

HW: Você sabe que no momento em que vê algo que aquilo é um fato. Você não vai além, é isso. Minha forma de pensar é totalmente diferente, porque não faço comparações. Eu apenas observo os fatos como eles são, você não precisa ir além disso. A consciência, eu penso, é o fator mais importante, porque você vive apenas parcialmente se não estiver ciente. Se você entra em uma sala e não presta atenção ao que está lá, você não está ciente. A maioria das pessoas não está ciente, elas só querem ver o que querem, e é isso. Porém, a consciência tem sido minha professora, eu poderia dizer, porque eu não sabia falar inglês quando cheguei a este país, aos doze anos, é claro que meu vocabulário é bastante limitado.

EB: Eu acho que você se expressa muito bem.

HW: Eu faço o melhor que posso com o que tenho.