Aldous Huxley

ROMANCISTA E FILÓSOFO

Há uma espontaneidade transcendente da vida, uma “realidade criativa”, conforme chamada por Krishnamurti, que se revela como iminente somente quando a mente do preceptor está em um estado de “passividade alerta”, de “consciência sem escolha”. Julgamento e comparação nos comprometem irrevogavelmente à dualidade. Apenas a consciência sem escolha pode levar a não-dualidade, a reconciliação dos opostos em compreensão e amor completos. Ama et fac quod vis. Se você ama, pode fazer o que desejar. Porém, se começar fazendo aquilo que deseja, ou aquilo que você não quer fazer por obediência a algum sistema tradicional de noções, ideais ou proibições, você nunca amará. O processo de libertação deve começar com a consciência sem escolha do que você deseja e de suas reações ao sistema de símbolos que te diz que você deve, ou não deve, desejar isto. Através dessa consciência sem escolha, conforme ela penetra as sucessivas camadas do ego e seu subconsciente associado, surgirão o amor e a compreensão, mas em uma ordem diferente daquela com a qual estamos familiarizados. Essa consciência sem escolha – em todo momento e em todas circunstâncias da vida – é a única meditação eficaz. Todas as outras formas de yoga levam ou ao pensamento cego da autodisciplina, ou a alguma forma de euforia autoinduzida, alguma forma de samadhi falsa. A verdadeira libertação é “uma liberdade interior da realidade criativa.” Isso “não é um dom. Deve ser descoberto e vivenciado. Não é uma aquisição para ser coletada a si mesmo para se glorificar. É um estado de ser, como o silêncio, no qual não há transformação, na qual há completude. Essa criatividade pode não buscar necessariamente a expressão. Não é um talento que exige manifestação externa. Não é preciso ser um grande artista ou ter audiência. Se você os buscar, sentirá falta da realidade interior. Não é nem dom ou realidade do talento. É preciso ser encontrado, esse tesouro imperecível, no qual o pensamento se liberta da luxúria, má vontade e ignorância, no qual o pensamento se liberta daquilo que é mundano e do desejo pessoal de ser. Deve ser vivenciado através do pensamento correto e da meditação.” A autoconsciência sem escolha nos levará à realidade criativa subjacente a todo faz de conta destrutivo, à sabedoria tranquila que está sempre presente, no lugar da ignorância, no lugar do conhecimento que é meramente ignorância em outra forma. O conhecimento é uma questão de símbolos e, muitas vezes, é um obstáculo para a sabedoria, para a descoberta do eu a cada momento. Uma mente que chegou à sabedoria da quietude “conhecerá o ser, saberá o que é amor. A amor não é pessoal ou mesmo impessoal. O amor é amor, não deve ser definido ou descrito pela mente como exclusivo ou inclusivo.  O amor é sua própria eternidade. É o real, o supremo, o imensurável.