Alasdair Coyne

PAISAGISTA JARDINEIRO, AMBIENTALISTA, OJAI, CALIFÓRNIA

Na universidade, na Escócia, estudava filosofia e áreas afins quando me deparei com os trabalhos de Krishnamurti. Por aproximadamente um ano eu não havia tido qualquer notícia sobre qualquer fundação, escola ou centro, ou mesmo notícias dele, se ele ainda estava vivo. Por acaso, deparei-me com a informação de que havia um centro em Brockwood Park e estive presente em uma reunião no local, provavelmente em setembro de 1974. Acampei na chuva com todo mundo e encantei-me pelo lugar e pelo orador. Vários meses depois me candidatei para uma vaga como jardineiro aprendiz sem experiência. Fui contratado na primavera do ano seguinte. O que mais me atraia no lugar era Krishnamurti e os aspectos de seu ensinamento que acredito que atraiam outras pessoas também. Por exemplo, sem respostas imediatas às perguntas e jogando o ouvinte contra si mesmo para encontrar respostas para as questões mais profundas que diz respeito a ele como indivíduo. Também fui para lá interessado em me tornar um jardineiro, o que desde então se tornou meu trabalho de vida, embora eu ainda não tivesse consciência disso na época. Trabalhei lá por dois anos e meio antes de vir morar em Ojai, onde fui contratado para plantar e manter o jardim ao redor da Pine Cottage recém ampliada.

Krishnaji tinha muito interesse pelo jardim da Pine Cottage. Ele tirava folga de suas outras responsabilidades para passear pelo jardim, se interessava pelas plantas e queria saber como as coisas estavam indo, ou que planta preencheria cada espaço. Para mim, isso o elevou a um nível muito mais humano do que aquele que eu havia percebido anteriormente. Desenvolvemos um relacionamento caloroso e atencioso, no qual havia uma preocupação comum com a aparência do terreno e um entusiasmo com algo novo surgindo. Todos os anos, quando ele voltava para os EUA, geralmente na primavera, ele sempre desejava passear por todo o jardim. Nós observávamos juntos o que havia mudado, o que poderia não ter funcionado bem, o que estava indo bem, o que podíamos melhorar, onde podíamos sempre plantar mais rosas. Rosas eram sua flor favorita. Ele amava a fragrância delas, e a vermelha era a rosa de sua cor favorita. Ao longo dos anos conheci Krishnaji muito mais como um homem preocupado com plantas.

Apesar da impressão pública de Krishnaji como uma pessoa que falaria para milhares de pessoas durante o ano sem problemas, por dentro ele era uma pessoa muito tímida. Quando eu estava em Pine Cottage, trabalhando no jardim, ele não sairia para observar o jardim se houvesse outras pessoas por perto. Era nos dias em que nada acontecia, quando tudo estava bastante quieto e não havia mais ninguém ao redor do pomar ou no terreno, que ele colocava seu chapéu e suas luvas, saía e passeava pelo jardim, me buscava, me levava ao redor da casa e me mostrava isso ou aquilo ou me perguntava algo. Eu até entreguei um ancinho para ele algumas vezes.

Krishnaji disse diversas vezes publicamente, e lembro-me de ouvi-lo em particular nos terrenos em Pine Cottage, que se ele não fosse um orador, ele gostaria de ter sido um jardineiro. Ele teria sido um bom jardineiro. Sei que ele gesticulava na direção das laranjeiras ao redor de Pine Cottage e dizia que havia plantado todas elas, provavelmente na década de 1940. Ele olhava para uma planta e se perguntava o que seria necessário para torná-la mais feliz. Ele apreciava as plantas e flores profundamente, plantas com fragrância, com uma cor específica, que atraíam beija-flores, tudo isso era importante para ele.

Apenas recentemente, em 1994, ocorreu-me que um pedido comum de Krishnaji para o jardim se tornou um dos meus princípios de paisagismo mais valiosos. Sempre que via mudas germinando pelo jardim, ele dizia: “Deixe, deixe”. Ele não era do tipo que dizia: “Está crescendo no caminho, devemos limpar”. Dessa forma, o caminho ao redor de Pine Cottage tornou-se uma paisagem com mudas auto plantadas. Uma paisagem muito agradável, embora naturalmente também tenhamos deixado um lugar para caminhar. Nos últimos anos, tenho projetado áreas de paisagismo para enfatizar o uso de mudas de fácil germinação independente – porque essas mudas podem preencher uma área e eventualmente expandi-la sem necessidade de irrigação, alteração do solo ou custo, o que é uma boa vantagem no clima árido.

Krishnaji me tratava como igual quando estávamos no jardim, ou simplesmente discutindo o jardim. Se eu tentasse segurar a porta aberta para ele, ele diria: “Não, não, não. Você primeiro,” e a segurava aberta para mim. Era um relacionamento de igualdade, não era de empregador/empregado. Ele se interessava pelo que eu poderia lhe dizer sobre uma questão específica do jardim e queria aprender as razões pelas quais algumas plantas estavam crescendo mal e como ajudar as plantas que pareciam precisar de assistência.

Meu último encontro com Krishnaji foi cerca de uma semana antes de sua morte. Ele estava na sala de estar em Pine Cottage, envolto calorosamente em um cobertor. Não parecia estar muito bem. Naturalmente, ele quis dizer oi. Ele sabia que eu estava em casa, provavelmente havia me visto passar pelas janelas, e pedira que eu entrasse por alguns minutos. Apesar de todos os negócios a tratar relacionados as Fundações dos vários países, ele quis conversar com o jardineiro por um minuto. Ele fez algumas perguntas sobre como as plantas estavam. Havia visto de dentro da casa o novo canteiro de rosas que plantamos para ele. Não sei se ele chegou a o ver de perto. Ele queria saber o que poderíamos plantar em uma pequena área a leste da casa que tinha alguns espaços vazios. Era tocante que em seus últimos dias de vida ele quisesse saber o que aconteceria depois. Ele queria ter uma ideia de como ficaria, mesmo que ele não estivesse lá para vê-lo. Depois ele disse: “Venha me ver novamente”, e foi a última vez que o vi.

Não acredito, como muitos acreditam, que Krishnaji era mais do que um ser humano. Sinto que cada indivíduo tem seu valor por si só e não acho que Krishnaji tenha mais valor do que qualquer outra pessoa. Por outro lado, algumas pessoas são mais maravilhosas e fizeram grandes coisas em suas vidas, e eu apreciei o privilégio de conhecer Krishnaji como jardineiro, nos momentos em que ele não era o orador. Muitas pessoas conheceram o orador, puderam vê-lo e ouvi-lo falar. Eu me senti privilegiado por ter conhecido o homem quando todas essas coisas não estavam acontecendo. Não estou dizendo que havia duas pessoas diferentes, o ser humano comum e o orador, mas gostei de conhecer o lado humano dele.

Krishnaji gostava muito da beleza paisagística de Ojai. Ele gesticulava para as colinas e descrevia como as havia explorado em sua juventude. Ele subia e descia Topa Topa, ao longo de Chief Peak e provavelmente a parte de trás dele, explorando por conta própria ou com outras pessoas. Isso me inspirou a trabalhar pela preservação ecológica, que se tornou um dos principais focos de minha vida.

Krishnaji adorava estar perto da vida selvagem. Ele contou que seguiu um lince por vários quilômetros na encosta atrás de Ojai – perto, mas invisível. Na Índia, ele falou com os macacos. Ele quis tocar um tigre pela janela do carro em uma reserva florestal.

Talvez o meu comentário favorito de Krishnaji, o orador, seja quando ele disse algo mais ou menos assim em uma reunião pública: “Vocês todos ficarão muito melhores em algum lugar na natureza. Vocês podem aprender muito mais com a natureza do que com o palestrante”.