Alan Rowlands

PIANISTA CONCERTISTA E PROFESSOR, LONDRES, INGLATERRA

Eu nunca havia escutado Krishnamurti, mas algo me fez ir a sua palestra. Foi no edifício Friends House, localizado na Euston Road, em 10 de maio de 1966. Não encontrei nada nem ninguém do lado de fora que pudesse me explicar quem Krishnamurti era ou o que iria acontecer ali. No interior, encontrei um ambiente cheio de pessoas peculiares em silêncio, além de uma única cadeira sobre uma plataforma com um microfone a sua frente. Pensei que um apresentador provavelmente o introduziria para o público, mas isso não aconteceu. Exatamente sete horas, um pequeno homem subiu na plataforma, sentou-se e começou a falar, e uma hora depois ele se retirou.

Eu sai quase em estado de êxtase, sem falar com ninguém, pois acho que percebi desde então que aquela hora fora uma das experiências mais importantes de minha vida. A partir do momento em que ele começou a falar, senti que conversava diretamente comigo, que suas palavras tinham como alvo precisamente o estado de mente em que me encontrava naquele momento. Ele passou uma impressão extraordinária de autoridade (no sentido de alguém que entende totalmente daquilo que fala) e toda a experiência carregou um sentimento estranho de completude, o qual eu não queria tocar.

Eu me recordo de ter assistido a uma palestra de Billy Graham na mesma semana. Houve uma tremenda preparação – palestrantes introdutórios, bandas, corais, e então o grande homem em pessoa. Ele torceu nossos corações, mas quando convidou as pessoas a irem em direção a Cristo, eu caminhei na direção contrária. Assim, percebe-se um contraste total com aquela palestra tranquila na Euston Road.

No ano seguinte, em 1967, li sobre a reunião que aconteceria em Saanen em um anúncio de jornal e então fui a ela. Dorothy Simmons estava lá, mas eu só vim a encontrar-me com ela nas palestras de Wimbledon, em 1969, quando todos os interessados em Brockwood foram convidados a ir e a falar com ela em uma mesa no saguão. Foi o que eu fiz, bastante nervoso. Dorothy foi muito aberta, e me convidou a visitar a escola Brockwood Park e a ajudá-la a preparar o lugar, o que eu fiz regularmente naquele ano, conhecendo Krishnaji pela primeira vez quando ele chegou em maio.

Mais tarde naquele mesmo ano ela me perguntou se eu poderia ensinar piano. Comecei em setembro de 1970, e continuo até hoje – 23 anos depois! Inicialmente tivemos um piano emprestado no cômodo principal até que, na época da universidade, consegui o piano de cauda (1904) que temos hoje, por £200.

Nos princípios de 1969, quando Alan Hooker era o cozinheiro, sentávamos todos ao redor da grande mesa na cozinha. Krishnaji as vezes conversava conosco durante ou após a refeição.

As vezes ele gostava de contar piadas. Eu achava que uma das melhores era a dos Três Homens Sábios visitando o Menino Jesus em Belém. Após fazer suas homenagens, um deles se levantou e bateu a cabeça em uma viga. “Jesus Cristo!”, ele exclamou. “Ah, esse é um bom nome,” Maria disse, “Estávamos pensando em chama-lo de Fred.”

Krishnaji era tímido por natureza, e mencionou isso em uma conversa que tive com ele em 1970. Eu vinha tentando expor alguns problemas que estavam me incomodando, mas ele não queria discutir nenhum deles em detalhes, apenas dizendo, “Você não pode simplesmente deixar tudo isso pra lá?”.  Um pouco mais tarde ele mesmo introduziu o tópico da timidez (que eu não havia mencionado) e falou da experiencia de entrar em um cômodo cheio de pessoas e como era possível deixá-las dialogar – elas eram apenas pessoas confusas a procura de respostas. Ele disse, “Deixe as outras partes de si mesmo contar a história.” Essa referência aos outros como “as outras partes de si mesmo” causou uma grande impressão em mim.

Outras coisas que ele falou que seguem comigo até hoje são, “apenas observe”, “veja o que acontece”, e “você não pode mudar aquelas nuvens.”

Naquela época, algumas das reuniões com a equipe eram bem intensas. Em uma delas ele questionou com grande urgência, “Qual é a coisa mais importante na sua vida?”. Tentamos responder de várias maneiras, tanto idealistas quanto reais, mas nada o satisfazia. Ele não toleraria nada do que havia sido dito antes, mas ele continuou questionando a mesma coisa. Finalmente, após aproximadamente uma hora, ele disse, “Eu me pergunto se ajudaria se eu dissesse qual é a coisa mais importante para mim.” Ele pareceu hesitar e então disse, “Ser nada, absolutamente nada.”

Alan Hower estava vivendo em Columbus, em Ohio, e viajava frequentemente como um professor teosófico quando teve acesso aos trabalhos de Krishnamurti em 1945. Foi o início de um compromisso que durou até o falecimento de Alan, em 1993.

Após se mudar para Ojai no fim dos anos 1940, pediram que ele cuidasse da alimentação e do alojamento das pessoas. Ele também continuou cozinhando em Saanen e Brockwood por muitos anos.

Algum tempo antes, ele e sua esposa, Helen, haviam aberto um restaurante a céu aberto, The Ranch House, em Ojai, na California. O restaurante oferecia uma culinária incomum, com vegetais frescos e ervas. Ele acrescentou aves, peixes e carne ao menu, uma vez que na época não havia vegetarianos suficientes para manter o restaurante. Alan Hooker é conhecido como “O padrinho da culinária californiana”.