1ª palestra

Frognerseteren, Noruega – 

Amigos, nossa própria procura pela compreensão da vida, pelo sentido da vida, nossa luta para compreender toda a substância da vida ou para descobrir o que é a verdade, destrói nossa compreensão. Nesta palestra, vou tentar explicar que onde há uma busca para compreender a vida, ou para descobrir o significado da vida, essa mesma busca perverte nosso julgamento.

Se sofremos, queremos uma explicação para esse sofrimento; sentimos que se não procurarmos, se não tentarmos descobrir o significado da existência, então não estamos progredindo ou adquirindo sabedoria. Portanto, estamos constantemente fazendo um esforço para compreender, e nessa busca por compreensão, estabelecemos consciente ou inconscientemente uma meta para o qual somos conduzidos. Estabelecemos uma meta, o ideal de uma vida perfeita, e tentamos ser fiéis a essa meta, a essa finalidade.

Conforme disse, consciente ou inconscientemente, estabelecemos uma meta, um propósito, um princípio ou crença, e tendo-o estabelecido tentamos ser fiéis a isso; tentamos ser fiéis a uma experiência que temos, mas que compreendemos apenas parcialmente. Por esse processo, estabelecemos uma dualidade. Porque não compreendemos o imediato com seus problemas, com suas convenções, porque não compreendemos o presente, estabelecemos uma ideia, uma meta, um fim para o qual tentamos avançar. Como não estamos preparados para estarmos alertas para enfrentar o sofrimento integralmente tal como ele vem, porque não temos a capacidade de enfrentar a experiência, tentamos estabelecer uma meta e ser coerentes. Assim, desenvolvemos uma dualidade na ação, no pensamento e no sentimento, e a partir dessa dualidade surge um problema. Nesse desenvolvimento da dualidade está a causa do problema.

Todos os ideais têm que ser sempre do futuro. Uma mente que está dividida, uma mente que se esforça para atingir o futuro, não pode compreender o presente e, portanto, desenvolve uma dualidade na ação. Agora, tendo criado um problema, tendo criado um conflito, porque não podemos enfrentar o presente integralmente, tentamos encontrar uma solução para o problema. É isso que fazemos constantemente, não é? Todos nós temos problemas. A maioria de vocês está aqui porque pensa que eu vou ajudá-los a resolver seus muitos problemas, e ficarão desapontados quando eu disser que não posso resolvê-los. O que vou fazer é tentar lhes mostrar a causa do problema, e depois vocês pela compreensão, podem resolver o problema por vocês próprios. O problema existe enquanto a mente e o coração estiverem divididos na ação. Isto é, quando estabelecemos uma ideia para o futuro e tentamos ser coerentes com ela, somos incapazes de enfrentar o presente completamente. Portanto, tendo criado um problema, tentamos procurar uma solução, que não é mais do que uma fuga.

Imaginamos que encontramos soluções para diversos problemas, mas ao encontrar soluções realmente não os resolvemos, não compreendemos a causa do problema. No momento em que resolvemos um problema, surge outro e, portanto, continuamos até o final de nossas vidas buscando soluções para uma série interminável de problemas. Nesta palestra, quero explicar a causa do problema e a maneira de dissolvê-lo.

Conforme disse, um problema existe enquanto houver reação, seja uma reação aos padrões externos ou uma reação a um padrão interno, como quando dizem: “Tenho que ser fiel a esta ideia”. Ou: “Tenho que ser fiel a esta crença”. A maior parte das pessoas instruídas e pensativas descartaram os padrões externos, mas desenvolveram padrões internos. Descartamos um padrão externo porque criamos um padrão interno ao qual tentamos ser fiéis. Um padrão que está continuamente a guiar-nos e a moldar-nos, um padrão que cria dualidade na nossa ação. Enquanto houver padrões aos quais tentamos ser fiéis, haverá problemas e, portanto, a procura contínua pela solução desses problemas.

Esses padrões interiores existem enquanto não encontrarmos as experiências e os incidentes da vida integralmente. Enquanto houver um princípio condutor em nossas vidas ao qual tentamos ser fiéis, tem que existir dualidade na ação e, por isso, um problema. Essa dualidade existirá enquanto houver conflito, e o conflito existe onde quer que haja limitação da autoconsciência, o “eu”. Embora tenhamos descartado os padrões externos e tenhamos encontrado para nós um princípio interno, uma lei interna, ao qual tentamos ser fiéis, ainda há distinção na ação e, por isso, uma incompletude na compreensão. É somente quando compreendemos, quando já não procuramos a compreensão, que há uma existência sem esforço.

Portanto, quando eu digo para não procurarem uma solução, para não procurarem um fim, não quero dizer que tenham que se voltar para o oposto e ficarem estagnados. Meu ponto é: Por que vocês procuram uma solução? Por que vocês são incapazes de enfrentar a vida abertamente, nuamente, simplesmente, completamente? Porque vocês estão sempre tentando ser coerentes. Por isso, há o esforço da vontade para vencer o obstáculo imediato. Há conflito, e vocês não tentam descobrir a causa do conflito. Para mim, essa busca contínua da verdade, da compreensão, da solução de diversos problemas, não é progresso. Essa ida de um problema a outro não é evolução. Somente quando a mente e o coração encontrarem cada ideia, cada incidente, cada experiência, cada expressão da vida completamente – somente então pode haver um devir contínuo que não é estagnação. Mas a procura por uma solução, que erroneamente chamamos de “progresso”, é simplesmente estagnação.

Interrogante: Você quer dizer que mais cedo ou mais tarde todos os seres humanos inevitavelmente, no curso da existência, alcançarão a perfeição, a libertação completa de tudo o que os domina? Se assim for, por que fazer qualquer esforço agora?

Krishnamurti: Sabem, eu não estou falando da multidão. Para mim, não existe esta divisão do indivíduo e da multidão. Estou falando com vocês como indivíduos. Afinal, a multidão são vocês multiplicados. Se compreenderem, darão compreensão. A compreensão é como a luz que dissipa a escuridão. Mas se vocês não compreenderem, se aplicarem o que estou dizendo apenas ao outro, ao homem exterior a vocês, então estarão apenas aumentando a escuridão.

Portanto, vocês querem saber se vocês – não esse homem imaginário da multidão – se vocês inevitavelmente alcançarão a perfeição. Se assim for, pensam vocês, por que fazer qualquer esforço no presente? Concordo plenamente. Se vocês pensam que inevitavelmente compreenderão o êxtase de viver, por que se preocupar? Mas, no entanto, porque vocês estão presos no conflito, vocês estão fazendo um esforço.

Colocarei as coisas de outro modo, é como dizer a um homem faminto que ele inevitavelmente encontrará algum meio para satisfazer sua fome. Como isso o ajuda hoje se você lhe disser que ele será alimentado daqui a dez dias? Nessa altura, ele poderá estar morto. Portanto, a questão não é: “Existe perfeição, inevitavelmente, para mim como indivíduo?” Em vez disso, é: “Por que faço esse esforço interminável?”

Para mim, um homem que procura a virtude deixa de ser virtuoso. No entanto, é isso que estamos fazendo o tempo todo. Estamos tentando ser perfeitos, estamos comprometidos com o esforço incessante de ser algo. Mas se fizermos um esforço porque estamos realmente sofrendo e porque queremos nos libertar desse sofrimento, então nossa principal preocupação não é a perfeição – não sabemos o que é a perfeição. Podemos apenas imaginá-la ou ler sobre ela em livros. Portanto, deve ser ilusória. Nossa principal preocupação não é com a perfeição, mas com a questão: “O que cria esse conflito que exige esforço?”

Comentário da audiência: O homem espiritual não é sempre perfeito?

Krishnamurti: Um homem espiritual pode ser, mas nós não somos. Isto é, temos um senso de dualidade, pensamos em um homem superior que é perfeito e em um homem inferior que não é perfeito, e pensamos no homem superior tentando dominar o inferior. Por favor, tentem acompanhar isto por um momento, quer concordem ou discordem.

Vocês podem conhecer apenas o conflito atual, vocês não podem conhecer a perfeição enquanto estiverem em conflito. Portanto, vocês não precisam se preocupar com o que é a perfeição, com a questão de saber se o homem é ou não perfeito, se o espírito é ou não perfeito, se a alma é ou não perfeita, vocês não se preocupam com isso. Mas, certamente, vocês estão preocupados com a causa do sofrimento.

Vocês sabem, um homem confinado em uma prisão está preocupado com a destruição dessa prisão para ser livre, ele não está preocupado com a liberdade como uma ideia abstrata. Agora, vocês não estão preocupados com o que causa o sofrimento, mas estão preocupados com a maneira de fugir desse sofrimento para a perfeição. Portanto, vocês querem saber se vocês, como indivíduos, algum dia alcançarão a perfeição.

Eu digo que essa não é a questão. A questão é: vocês estão conscientes no presente, estão completamente cientes no presente, das limitações que criam sofrimento? Se vocês conhecerem a causa do sofrimento, a partir disso, vocês saberão o que é a perfeição. Mas vocês não podem conhecer a perfeição antes de estarem livres do sofrimento. Essa é a causa da limitação. Portanto, não perguntem se vocês alcançarão a perfeição, se a alma é perfeita ou se o Deus em vocês é perfeito, mas tornem-se plenamente conscientes das limitações da sua mente e do seu coração na ação. E vocês só podem descobrir essas limitações quando agem, quando não estão tentando imitar uma ideia ou um princípio condutor.

Vocês sabem, nossas mentes estão obstruídas com padrões nacionais e internacionais, com padrões que recebemos de nossos pais e padrões que nós mesmos desenvolvemos. Guiados por esses padrões, encontramos a vida, portanto somos incapazes de compreender. Só podemos compreender quando nossas mentes estão realmente frescas, simples, ansiosas – quando não estão sobrecarregadas com ideias. Agora, cada um de nós tem muitas limitações, limitações das quais somos completamente inconscientes. A própria pergunta sobre se existe a perfeição, implica a limitação da consciência. Mas vocês não podem descobrir essas limitações analisando o passado. A tentativa de autoanálise é destrutiva, mas é isso que vocês estão tentando fazer. Vocês dizem: “Eu sei que tenho muitas limitações, portanto examinarei, procurarei e descobrirei quais são minhas barreiras e limitações, e então serei livre”. Quando vocês fazem isso, vocês estão apenas criando um novo conjunto de barreiras, de obstáculos. Para realmente descobrir os falsos padrões e as barreiras do passado, vocês devem agir com consciência total no presente, e nessa atividade, vocês se tornam conscientes de todos os obstáculos não descobertos. Experimentem e verão. Comecem a mover-se com total consciência, com a consciência completamente desperta na ação, e vocês verão que têm inúmeras barreiras, crenças, limitações, que os impedem de agir livremente.

Portanto, eu digo que a autoanálise, a análise para descobrir a causa no passado é falsa. Vocês nunca podem descobrir a partir do que está morto, mas apenas pelo que está vivo. E o que está vivo está sempre no presente e não no passado. O que vocês devem fazer é encontrar o presente com plena consciência.

Interrogante: Quem é o salvador das almas?

Krishnamurti: Se pensarmos nisso por um momento, vemos que essa frase: “O salvador das almas”, não tem sentido. A que se referem quando dizem “uma alma”? Uma entidade individual? Por favor, corrijam-me se estiver errado. A que nos referimos quando falamos de uma alma? Referimo-nos a uma consciência limitada. Para mim, só há essa vida eterna – em contraste com essa consciência limitada que chamamos de “eu”. Quando esse “eu” existe, há dualidade – a alma e o salvador das almas, o inferior e o superior. Vocês só podem compreender essa unidade completa da vida com a cessação da autoconsciência ou do “eu” que cria a dualidade. Para mim, a imortalidade, esse devir eterno, não tem nada em comum com a individualidade. Se o homem puder se libertar das suas muitas limitações, então essa liberdade é a vida eterna. Então, a mente e o coração conhecerão a eternidade. Mas o homem não pode descobrir a eternidade enquanto houver limitação.

Portanto, a pergunta: “Quem é o salvador das almas?” Deixa de ter qualquer significado. Ela surge porque estamos olhando para a vida a partir do ponto de vista da consciência autolimitada que chamamos de “eu”. Portanto, dizemos: “Quem me salvará? Quem salvará minha alma?” Ninguém pode te salvar. Vocês mantiveram essa crença durante séculos e, no entanto, estão sofrendo, ainda existe um caos absoluto no mundo. Vocês próprios têm de compreender, nada pode lhes dar sabedoria, exceto sua própria ação no presente, que deve criar harmonia a partir do conflito. Somente daí é que surge a sabedoria.

Interrogante: Alguns dizem que os seus ensinamentos são somente para os eruditos e para os intelectuais, e não para as massas, que estão condenadas a uma luta constante e ao sofrimento na vida diária. Você concorda?

Krishnamurti: O que você diz? Por que devo concordar ou discordar? Eu tenho algo a dizer e direi. Receio que não sejam os eruditos que compreenderão. Talvez esta pequena história esclareça o que quero dizer: Certa vez, um comerciante que tinha algum tempo livre, foi até um sábio indiano e lhe disse: “Tenho uma hora disponível, por favor, diga-me o que é a verdade”. O sábio respondeu: “Você leu e estudou muitos livros. A primeira coisa que você deve fazer é suprimir tudo o que aprendeu.”

O que estou dizendo não se aplica apenas à classe ociosa, às pessoas que se supõe serem inteligentes, bem-educadas – e estou usando a palavra “supõe” propositadamente – mas também às chamadas massas. Quem mantém as massas na labuta diária? Os inteligentes, aqueles que são supostamente instruídos, não é assim? Mas, se eles fossem realmente inteligentes, encontrariam uma maneira de libertar as massas da labuta diária. O que estou dizendo é aplicável não apenas aos instruídos, mas a todos os seres humanos.

Vocês têm tempo livre para me ouvir. Agora, vocês podem dizer: “Bem, eu compreendi um pouco e, portanto, vou usar essa pequena compreensão para mudar o mundo”. Mas, vocês nunca mudarão ou alterarão o mundo dessa maneira. Vocês podem escutar durante um espaço de tempo e pensar que compreenderam algo, e dizer para vocês próprios: “Vou usar esse conhecimento para reformar o mundo”. Uma reforma assim seria apenas uma obra feita de remendos. Mas, se vocês realmente compreendessem o que estou dizendo, vocês criariam uma perturbação no mundo – aquela inquietação emocional e mental da qual surge a melhoria das condições. Isto é, se vocês compreenderem, vocês tentarão criar um estado de descontentamento à sua volta, e isso vocês só podem fazer se mudarem a si próprios, vocês não podem fazer isso se pensarem que o que eu digo se aplica somente aos eruditos e não a vocês mesmos. O homem na rua são vocês. Portanto, a questão é: vocês compreendem o que estou dizendo?

Se você está intensamente envolvido em um conflito, você quer descobrir a causa desse conflito. Agora, se vocês estiverem completamente conscientes desse conflito, vocês descobrirão que sua mente está tentando fugir, tentando evitar enfrentar completamente esse conflito. Não é uma questão de me compreenderem ou não, mas se vocês, como indivíduos, estão completamente conscientes, vivos para enfrentar a vida completamente. O que os impede de encontrar a vida integralmente? Essa é a questão. O que os impede de encontrar a vida integralmente é a ação contínua da memória, de um padrão do qual surge o medo.

Interrogante: Segundo o senhor, parece não haver ligação entre intelecto e inteligência. Mas você fala de inteligência desperta tal como nós podemos falar de intelecto treinado. O que é inteligência e como ela pode ser despertada?

Krishnamurti: Treinar o intelecto não resulta em inteligência. Em vez disso, a inteligência surge quando se age em perfeita harmonia, tanto intelectual quanto emocionalmente. Há uma grande distinção entre intelecto e inteligência. O intelecto é apenas pensamento funcionando independentemente da emoção. Quanto o intelecto, independentemente da emoção, é treinado em qualquer direção particular, pode-se ter um grande intelecto, mas não se tem inteligência, porque na inteligência existe a capacidade inerente de sentir tanto quanto de raciocinar. Na inteligência ambas as capacidades estão igualmente presentes, de forma intensa e harmoniosa.

Agora, a educação moderna está desenvolvendo o intelecto, oferecendo cada vez mais explicações da vida, cada vez mais teorias, sem a qualidade harmoniosa do afeto. Portanto, desenvolvemos mentes astutas para fugir do conflito, por isso estamos satisfeitos com as explicações que os cientistas e os filósofos nos dão. A mente, o intelecto, está satisfeito com essas inumeráveis explicações, mas a inteligência não está, porque para compreender tem que haver completa unidade de mente e coração na ação. Isto é, agora vocês têm uma mente de negócios, uma mente religiosa, uma mente sentimental. As suas paixões nada têm a ver com negócios, o seu intelecto para ganhar a vida diária nada tem a ver com suas emoções. E vocês dizem que essa situação não pode ser alterada. Se trouxerem suas emoções para os negócios, vocês dizem que os negócios não podem ser bem administrados ou honestos. Portanto, vocês dividem sua mente em compartimentos, em um compartimento, vocês guardam seu interesse religioso, em outro suas emoções e em um terceiro, os seus interesses comerciais que nada têm a ver com sua vida intelectual e emocional. A sua mente de negócios trata a vida apenas como um meio de conseguir dinheiro para viver. Daí esta existência caótica, esta divisão da sua vida continua.

Se vocês realmente usassem sua inteligência nos negócios, isto é, se suas emoções e seu pensamento agissem harmoniosamente, o seu negócio poderia falir. Provavelmente faliria. E provavelmente vocês deixarão falir quando realmente sentirem o absurdo, a crueldade e a exploração que está envolvida nesse modo de vida. Até que vocês realmente abordem a totalidade da vida com sua inteligência, em vez de meramente com seu intelecto, nenhum sistema no mundo salvará o homem da labuta incessante pelo pão.

Interrogante: Você costuma falar da necessidade de compreender nossas experiências. Você poderia, por favor, explicar o que você quer dizer com compreender uma experiência da maneira correta?

Krishnamurti: Para compreender completamente uma experiência, vocês devem abordá-la com frescor cada vez que ela os confrontar. Para compreender a experiência, vocês devem ter uma clareza de mente e coração aberta e simples. Mas nós não abordamos as experiências da vida com essa atitude. A memória nos impede de abordar a experiência abertamente, nuamente. Não é assim? A memória nos impede de encontrar a experiência integralmente e, portanto, nos impede de compreender a experiência completamente. Agora, o que causa a memória? Para mim, a memória é apenas o sinal de uma compreensão incompleta. Quando vocês encontram uma experiência totalmente, quando vocês a vivem completamente, essa experiência ou esse incidente não deixa a cicatriz da memória. A memória só existe quando vocês vivem parcialmente, quando vocês não encontram a experiência integralmente. Só há memória na incompletude. Não é assim? Tomemos, por exemplo, o fato de vocês serem coerentes com um princípio. Por que vocês são coerentes? Vocês são coerentes porque não podem encontrar a vida abertamente, livremente. Portanto, vocês dizem: “Devo ter um princípio que me guie”. Daí a luta constante para serem coerentes, e com essa memória como pano de fundo, vocês encontram todos os incidentes da vida. Assim, há incompletude na sua compreensão porque vocês abordam a experiência com uma mente que está sobrecarregada. Somente quando vocês encontrarem todas as coisas, sejam elas quais forem, com uma mente descarregada, somente então vocês terão verdadeira compreensão.

Vocês dizem: “Mas, o que vou fazer com todas as memórias que tenho?” Vocês não podem descartá-las. Mas, o que vocês podem fazer é encontrar sua próxima experiência integralmente, então vocês verão essas memórias passadas entrarem em ação, e então é o momento de encontrá-las e dissolvê-las.

Portanto, o que dá compreensão correta não é o resíduo de muitas experiências. Vocês não podem encontrar integralmente novas experiências quando o restante das experiências passadas está sobrecarregando sua mente. No entanto, é assim que vocês as encontram continuamente. Isto é, sua mente aprendeu a ser cuidadosa, a ser astuta, a agir como um sinal, a dar um aviso, portanto, vocês não podem encontrar completamente qualquer incidente. Para libertar sua da memória, para liberá-la do fardo da experiência, vocês devem encontrar a vida completamente, nessa ação suas memórias passadas entram em atividade e na chama da consciência elas são dissolvidas. Experimentem e verão.

Ao ir embora daqui, vocês encontrarão amigos, verão o pôr do sol, as longas sombras. Estejam completamente conscientes nessas experiências, então vocês descobrirão que todos os tipos de lembranças surgem. Em sua percepção aguda, vocês compreenderão a falsidade e a força dessas lembranças, e poderão dissolvê-las. Vocês então conhecerão com plena consciência cada experiência da vida.

06/09/1933