10ª palestra em Saanen, Suiça

Talvez nessa manhã possamos investigar juntos, algo que o homem tem buscado através dos séculos, e que aparentemente, tem encontrado muito pouco. Através de sua confusão e aflição, através de sua felicidade passageira, através de toda sua confusão e miséria, o homem colocou junto inumeráveis dogmas e crenças a respeito daquilo que, no ocidente e no oriente, ele deu diferentes nomes. Chame isto de Deus, realidade, ou do que quiser, cada um de nós está procurando isto; e se vamos explorar e descobrir por nós mesmos se existe ou não algo além das coisas que a mente juntou, vamos precisar de certa habilidade – a habilidade que vem no movimento correto da própria investigação. Não é que você tenha que ter primeiro a habilidade e depois investigar, mas no próprio processo de investigar, desvelar, penetrar, surge a habilidade, a destreza, a claridade com que olhar. Porém, para isto você deve ter, obviamente, um profundo ceticismo, certo elemento de dúvida. Deve haver dúvida, não apenas sobre as religiões organizadas, mas também sobre tudo que você descobrir dentro de si mesmo no movimento de investigação. Você não pode aceitar uma coisa. Você não pode aceitar o que a sociedade e as religiões organizadas tem imposto sobre a mente, nem pode aceitar qualquer reação que ocorre durante a investigação – você tem as reações porque deseja alguma coisa permanente, estável, definida. Se através de seu desejo por segurança, por permanência, você tem determinadas experiências e com essas experiências estiver satisfeito, contente, inevitavelmente permanecerá no estado de estagnação. Mas, se desde o início, houver uma atitude de questionamento, de dúvida, de ceticismo, em tudo que vir, em tudo que sentir, então esse próprio ceticismo produz a habilidade na observação, que é absolutamente necessária para uma mente que vai investigar ou questionar algo, que talvez não possa ser concebido ou formulado.

Em todo mundo, as religiões organizadas têm afirmado que existe algo que não é feito pelo homem, algo que não é meramente mecânico, e a isto, deu uma grande variedade de atributos. Por muitos séculos essas religiões organizadas, através de incessante propaganda, tem imposto certos conceitos sobre a mente, e cada um de nós, consciente ou inconsciente, está condicionado há muito tempo por essa propaganda contínua e sutil. Para colocar de lado todo esse condicionamento necessita-se de uma grande quantidade de energia, e para investigar, questionar a si mesmo, você precisa, eu asseguro a você, de uma tremenda dúvida – duvidar de tudo que descobrir.

Provavelmente as religiões organizadas tiveram, no início, certa utilidade ao fazer o homem um pouco civilizado, mas agora elas não têm mais nenhum sentido porque o homem perdeu todo sentido de civilidade. Ele está preparado para em um instante matar milhões e varrer completamente uma cidade. Dessa forma, você e eu temos de descobrir por nós mesmos – e estou certo que esta é a intenção das pessoas mais inteligentes e intelectuais. – se realmente existe algo além das criações da mente. Descobrir não é aceitar, ou meramente ter conhecimento daquilo que tem sido dito sobre isto pelas várias religiões, descobrir também é diferente de querer experimentar aquele algo mais. No momento em que deseja experimentá-lo, você cessa de duvidar, não tem mais nenhum ceticismo, e então será escravo de sua experiência.

Por favor, observe seu próprio processo de exploração à medida em que o orador está falando.Não se satisfaça apenas com suas palavras, suas explicações, porque então apenas ele estará fazendo a investigação, e você estará apenas ouvindo palavras que terão muito pouco significado. Mas, se escutar, você também tomará parte na investigação, você descobrirá em si mesmo a habilidade de uma mente que está ciente, aguda, clara, incisiva, e então, a questão de se aceitar qualquer autoridade, não se coloca.

Mas veja, fomos criados na autoridade. Toda nossa vida está baseada na autoridade do passado – a autoridade do que dizem os vários mestres religiosos, a autoridade dos sacerdotes, que têm um direito adquirido tanto como mestre, como sobre o ensinamento. Fomos educados, condicionados, moldados por essa autoridade religiosa e apenas questionar isto externamente tem pouco valor.Mesmo no mundo comunista onde a religião organizada já foi um tabu, os sacerdotes agora estão permitidos a agir, porque a religião organizada, em todo mundo, tem se tornado mais ou menos inofensiva. Você pode praticar suas próprias idiossincrasias de crenças religiosas particulares, desde que não haja nenhuma ameaça ao poder político estabelecido, eles permitirão a você fazer o que quiser sobre religião. Apenas quando você se recusar a ser nacionalista, quando se recusar a ir a guerra, matar em nome do país, e etc.., é que você se torna um perigo. No mundo ocidental, a religião organizada nunca se posicionou de forma firme contra o nacionalismo, contra a carnificina da guerra, pelo contrário, ela encorajou a guerra. Portanto, agora, somos seres humanos domados, condicionados pelo medo, pela autoridade da igreja, do templo, do sacerdote, e a religião se tornou uma coisa morta com a qual brincamos aos domingos. Voltamos a ela quando estamos em profunda tristeza e queremos ser confortados. Mas religião, a coisa real, não dá conforto. Não é algo domesticado que você pode carregar com você. Ela é drástica, cruel. Ela destrói você. E é isto que vamos agora explorar, investigar. Para explorar, você não pode olhar para o que está vendo a partir do ponto de vista de qualquer filosofia individual ou particular. Para investigar, descobrir, você deve se despir completamente do passado. Para explorar, deve haver virtude e não hábito. A moralidade se transformou em costume, hábito, uma coisa superficial, condicionada pela estrutura psicológica da sociedade – o que a maioria de nós somos.Vivemos uma moralidade habitual, costumeira, e a virtude da qual estou falando é algo muito diferente.

Virtude não é autoridade em ação, mas no próprio processo de compreender a autoridade – compreendê-la inteligentemente, habilidosamente, claramente, profundamente – a virtude surge no ser. Da mesma forma que você não pode cultivar o amor, a virtude também não pode ser cultivada; mas se compreender o enorme significado, a profundidade e a brutalidade da autoridade, a partir dessa compreensão surge a beleza da virtude.

No início o homem investigava, procurava, tateava, mas aquela investigação original, aquela busca, se tornou tradicional; é uma coisa do passado, que agora virou nosso hábito. A continuidade da tradição, da autoridade do passado, cria os valores que a sociedade impôs sobre a mente, e que construímos dentro de nós como caráter. Esse caráter se torna o pano de fundo da autoridade, e a partir da qual vemos, observamos e experimentamos.Portanto, se quisermos realmente investigar, explorar, devemos nos libertar do pano de fundo da autoridade.

Por favor, acompanhe. Se pudermos explorar, investigar seriamente essa questão juntos, talvez então, quando deixarem esse lugar e voltarem para suas casas, serão capazes de confrontar-se com seus inumeráveis problemas e misérias de maneira completa, com uma mente diferente, com um coração diferente, com um sentimento diferente. Afinal de contas, é isto que estamos tentando fazer aqui: produzir uma revolução completa, uma mutação na consciência. Isto é muito importante porque a simples mudança é degeneração. Mudança implica apenas na modificação do que já foi. Isto não é revolução. Estamos falando a respeito de uma revolução, uma mutação total, em nossa maneira de pensar, sentir e ser. Possivelmente essa mutação não possa ter lugar se permanecermos apenas no nível verbal ou intelectual. É por isso que, caso esteja sendo sério a respeito de tudo isso, você deve explorar bastante as profundezas de seu ser. A partir dessa exploração você descobrirá por si mesmo se existe, ou não, algo além da medida do homem.

A autoridade psicológica, como memória, como pano de fundo que lhe guia, que molda seus pensamentos e controla suas ações, deve ser total e completamente compreendida. É nesta compreensão real que nasce a virtude. A virtude é espontânea, não é uma coisa artificial que você construiu como uma parede de resistência para lhe ajudar a permanecer enclausurado, de forma segura, dentro de suas atividades autocentradas. A exploração significa habilidade na observação, e para isto, você deve estar livre de toda autoridade – psicologicamente, não legalmente. Você entende a diferença? Caso desobedeça a autoridade da lei, do policial na rua, você será detido e levado à cadeia. Não estamos falando disto. Estamos falando da liberdade da autoridade psicológica – da autoridade que você construiu através do conhecimento, através da memória, através da experiência que você teve. Enquanto estiver preso pela autoridade psicológica, por qualquer crença que lhe dê conforto, sua mente não será suficientemente rápida e sutil para a verdadeira exploração. A mente que está explorando, questionando, investigando, não permanece em um ponto fixo, ela não levanta uma posição a partir da qual ela tenta explorar. Ela está constantemente se movendo, e a exploração é este movimento completo.

Portanto, quando você começa a explorar, não estará explorando algo além de si mesmo. Você estará explorando o processo global de sua própria consciência, porque essa é a base a partir da qual você pensa, a partir da qual você sente. Você deve começar examinando o próprio instrumento que vai ser explorado. Vocês entenderam? Espero estar-me fazendo claro.

Afinal de contas, temos apenas um instrumento, a mente, que é o assento do pensamento. E se a mente, com suas reações, não é completamente questionada, explorada e compreendida, não se tem meios de investigar.

Por favor, siga tudo isso muito de perto , porque está ficando mais difícil. Quando a mente começa a olhar para suas próprias reações, motivos, demandas, compulsões, a experiência dela é arquivada como memória, e lá surge uma divisão entre o observador e a coisa observada, não é assim? É isso que realmente acontece. Agora, enquanto houver essa divisão que cria conflito entre o observador e a coisa observada, não poderá haver habilidade na observação, e, portanto nenhuma exploração real. Para que essa divisão entre o observador e a coisa observada  não apareça, exige-se uma conscientização aguçada, certa tensão de observação. Essa divisão apenas cria conflito – e a habilidade na observação não surge do conflito. Ela surge de sua completa atenção – o que significa que o observador e a coisa observada são uma unidade, e não coisas separadas. Na observação de si mesmo você perceberá que o instrumento do pensamento, do sentimento, está ofuscado pela vasta experiência de séculos que, como conhecimento instintivo, se tornou a autoridade que diz a você o que fazer, e que projeta para o futuro alguns filmes, ou imagens, baseados nas reações condicionadas do passado. Deve-se estar livre de todo esse pano de fundo para se descobrir se existe ou não algo além da medida do homem.

Quando começar a investigar seu interior descobrirá que sua mente está dividida em consciente e inconsciente, e para compreender a correta exploração, a totalidade de sua consciência deve ser harmoniosamente una, não separada como duas coisas diferentes. Para produzir essa harmonia total você não pode artificialmente integrar ou juntar essas duas coisas distintas. Essa harmonia, essa unidade, chega ao ser apenas quando há uma compreensão do processo da consciência, significando que a mente é capaz de observar a si mesma, mais negativa que positivamente – isto é, quando a mente pode olhar para suas próprias reações sem guiar, moldar ou tentar de alguma forma alterar o que ela vê. Em outras palavras, sua mente deve estar cônscia de si mesma, em um estado sem escolha. Dessa forma descobrirá que sua mente se tornou espantosamente quieta, tranquila, e nesta tranquilidade, ela pode observar mais profundamente seu próprio pensamento.

Se você quiser realmente olhar para alguma coisa – um rio, uma montanha, uma árvore – sua mente deve estar estável, quieta, imperturbável. De maneira similar, para explorar a amplitude total da consciência, sua mente deve estar completamente quieta – mas não disciplinada no silêncio. A mente que se faz quieta através da disciplina é uma mente superficial, uma mente morta, e inevitavelmente se degenera. Mas, quando a mente explora e compreende todas as suas próprias reações, quando ela está cônscia de cada movimento do pensamento e do sentimento, desta conscientização surge uma quietude espontânea, uma sensibilidade extraordinária que é sua própria disciplina.

A maioria de nós é disciplinada. A opinião da sociedade, do vizinho, dos jornais, dos livros e revistas que lemos – todas essas influências moldam nosso pensamento e sentimento, nosso comportamento. Como reação a tudo isso, nos disciplinamos para nos adequar a alguma idéia ou ideal ou àquilo que o instrutor, o salvador, o Mestre sancionou. Todo esse tipo de disciplina é mera conformidade, repressão; ela não acarreta liberdade. Mas, quando a mente está totalmente ciente de todo movimento de seu próprio pensamento e sentimento, a partir dessa conscientização simples e profunda, surge uma disciplina que nunca obedece a nada. Essa disciplina é habil em observar. Possivelmente, você pode não ter essa habilidade enquanto houver dependência de qualquer forma de autoridade – a autoridade do herói, o exemplo do sacerdote, ou a autoridade daquilo que você já conhece – porque a autoridade molda e condiciona sua mente, e dessa forma limita sua investigação, sua sutileza, sua habilidade em observar.

Você descobrirá que apenas quando a mente está completamente quieta, vazia, é que alguma coisa pode ser completamente percebida. Para observar você precisa de espaço, de vazio. Não posso observar você se não houver espaço entre nós dois. De maneira semelhante, uma mente que esteja debilitada com sofrimento, carregada de problemas; uma mente que esteja repleta de suas próprias futilidades, frustrações, com desejos de realizações, uma mente presa em nacionalismo e todas as outras coisas insignificantes da vida – essa mente não está vazia, não há espaço, portanto, é absolutamente incapaz de observar. Não faz nenhum sentido quando essa mente diz, “Devo investigar para descobrir se há alguma coisa além da mente.” A mente deve primeiramente explorar a si mesma.

Quando a mente está completamente quieta, vazia – e isso demanda uma impressionante conscientização, uma atenção sem esforço – então, como tenho dito, há o começo da meditação. Então ela pode ver, observar, escutar, e descobrir diretamente por si mesmo se existe algo além das medidas inventadas pelo homem para descobrir a realidade. Para o orador, há uma realidade além das coisas que o homem construiu. Mas o orador não é autoridade para ninguém. Cada um deve descobrir por si mesmo. O indivíduo deve estar em um estado de tremenda revolução, e a partir desta mutação há ação. No próprio processo de se autodescobrir, de descobrir o conteúdo integral da consciência, há ação, e essa mente em ação é explosiva. Ela inevitavelmente afeta a sociedade, mas ela não está preocupada se tem ou não algum efeito.

A maioria de nós deseja mudanças para reformar a sociedade; mas toda reforma necessita de mais reformas, e cada mudança alimenta a desintegração porque ela é a negação da completa mutação. Estou falando de uma revolução psicológica, e quando há essa revolução, a ação é total, e não uma ação parcial de diferentes níveis de nossa consciência. Apenas a ação total oriunda do ser integral tem um efeito tremendo sobre o mundo.

Portanto, uma mente que está buscando a realidade deve estar em um estado de constante observação – que significa não haver acumulação, nem autoridade. Ela deve também estar em um estado de questionamento, de dúvida. Para que ela se esvazie de todos seus apoios confortáveis e permaneça completamente solitária, deve haver um ceticismo saudável em relação a tudo que é pensado ou sentido, a tudo que é considerado importante ou desprezível. Apenas essa mente é inocente, e apenas ela pode descobrir se há ou não realidade.

Vocês gostariam de fazer perguntas?

Interrogante:  Posso perguntar quem está cônscio, e se existe uma diferença entre conscientização e observar o observador?

Krishnamurti: Quando você ouve totalmente uma música, ou alguém falando, há um ouvinte? Quando você observa algo com completa atenção, há um observador? Apenas quando sua atenção está dividida, incompleta, é que existe um observador separado da observação, e então perguntamos “Quem é o observador?”

Como ouve alguma coisa? Você ouve parcialmente, não é mesmo? Você não usa sua atenção total. Não está profundamente interessado no que o outro está dizendo e presta muito pouca atenção, ouve despreocupadamente, e dessa forma existe uma divisão entre o ouvir e o ouvinte. Mas se ouvir algo com completa atenção não há essa divisão. Você sabe o que quero dizer por atenção completa: estar presente sem esforço. Não diga, “sou distraído, como estar presente sem esforço?” Se você prestar atenção ao que chama de distração, a distração cessa de ser uma distração, não é mesmo? Geralmente não prestamos atenção, e dessa forma somos treinados em concentração. Caso não esteja concentrado no que estiver fazendo em seu emprego, você poderá perdê-lo; dessa maneira, você é treinado, condicionado, disciplinado a se concentrar. Esta concentração implica em exclusão. Ao exigir, de si mesmo, se concentrar em uma coisa será obrigado a excluir alguma outra coisa. Quando o pensamento foge daquilo que você deseja se concentrar, para aquilo que está tentando excluir, você chama isto de distração, e dessa forma, para você, concentração é uma forma de conflito e é tudo o que conhecemos.

Mas estou falando de algo completamente diferente. Estar presente sem conflito. Ouvir sem tensão, sem perturbação, isto é, ouvir com completa atenção; e você somente pode ouvir com completa atenção quando no ouvir não há nenhum proveito, nenhum motivo pessoal, nenhuma exigência, nenhuma interpretação. Você está apenas ouvindo. Neste estado de audição total não há entidade que ouve, nenhum ouvinte separado da audição. É um processo unitário que tem lugar quando você está interessado completamente em alguma coisa.

Você já observou uma criança quando está com um novo brinquedo? Até que ele se torne familiar e ela se aborreça com ele, ela o absorve. Ela é tão fortemente atraída pelo brinquedo que se torna temporariamente um com ele; não há distração porque o brinquedo a absorveu completamente. Nós também queremos ser absorvidos por alguma coisa. – Deus, sexo, amor, centenas de coisas. Queremos estar tão comprometidos com alguma coisa, que este desejo nos toma completamente, mas essa absorção não é atenção. A maioria de nós tem algo exterior, ou interior à pele, com o qual estamos comprometidos, e no qual podemos nos perder – uma crença, uma esperança, um relacionamento, uma forma particular de trabalho ou diversão – e o comprometimento é sempre neurótico. Independentemente da sociedade em que se vive, a comunista ou qualquer outra, ela exige que você esteja comprometido com alguma coisa – com um partido, uma ideologia, com a defesa do estado – porque de outra maneira você será um ser humano perigoso. Porém, quando nem o externo nem o interno lhe absorve, e você compreendeu o processo global de concentração e exclusão, então, a partir dessa compreensão aparece o estado de conscientização simples, da atenção sem esforço, na qual seu corpo, sua mente, seu ser integral está alerta, completamente atento.

Senhor, ouça o trem que está passando. Se ouvir o barulho, o rugido dele, sem resistência, sem qualquer sentido de construir uma parede contra ele, se escutar a isso completamente, então descobrirá que não há ouvinte.

Interrogante:  Você fala desta tremenda energia que é necessária para a completa atenção. Quem pode ter essa energia?

Krishnamurti: Como obtemos energia? Por um lado, comendo o alimento correto, ou o tipo de alimento de que se necessita, fazendo exercícios suficientes, e dormindo na medida certa. A maioria de nós também produz energia de competições, lutas, conflitos, não fazemos isso? Essa é toda energia que conhecemos. Estando preso nessa energia limitada, e querendo por outro lado expandir nossa consciência, lançamos mão de drogas. Existem vários tipos de drogas que ajudam a expandir a consciência, e no momento da expansão induzida pelas drogas, nos sentimos tremendamente cônscios, sensíveis. Ela nos dá uma qualidade diferente, uma aguçada sensação de alteridade. Esse efeito foi descrito por várias pessoas que tomaram drogas.

Mas como despertamos em nós mesmos uma energia que tem seu próprio momentum, que é sua própria causa e efeito, uma energia que não tem resistência e nem se deteriora? Como se consegue isso? As religiões organizadas têm defendido vários métodos, e pela prática de um desses métodos supõem-se obter essa energia. Porém métodos não fornecem essa energia. A prática de um método implica em conformidade, resistência, negação, aceitação, ajustamento, e, portanto qualquer que seja a energia que se tenha, ela é dissipada por si mesmo. Caso veja a verdade disso nunca praticará nenhum método. Esta é a primeira coisa. Em segundo lugar, caso a energia tenha um motivo, uma meta para qual esteja indo, essa energia será autodestrutiva. Para a maioria de nós, energia tem um motivo, não é mesmo? Somos movidos pelo desejo de realizar, para se tornar isso ou aquilo, e, portanto nossa energia se desmorona. Em terceiro lugar, a energia se torna débil, insignificante, quando segue um modelo do passado – e essa talvez seja nossa maior dificuldade. O passado não é apenas os diversos dias anteriores, mas também cada minuto que está sendo acumulado, cada memória das coisas que se foram um segundo atrás. Essa acumulação na mente também destrói energia.

Dessa forma, para despertar essa energia, a mente não deve ter resistência, nenhum motivo, nenhum fim em vista, e não deve ficar presa no tempo, como ontem, hoje e amanhã. Então a energia será constantemente renovada e não se degenera. Tal mente não está comprometida; ela é completamente livre, e apenas essa mente é que pode descobrir aquilo que não pode ser nomeado, aquilo extraordinário que está além das palavras. A mente deve se libertar a si mesma do conhecido para entrar no desconhecido.

28 de Julho de 1963.