12ª conversa com alunos da escola Rajghat – Banaras, Índia

Krishnamurti: Desde a infância somos educados para condenar algumas coisas ou algumas pessoas e louvar outras. Você já não ouviu os adultos dizerem: “Você é um menino travesso”? Eles pensam que fazendo isso, eles resolverão o problema. Mas entender algo requer muito insight, um grande senso, não de tolerância – a tolerância é meramente uma invenção da mente para justificar suas atividades ou justificar as atividades de outras pessoas – mas de compreensão, uma grande amplitude e profundidade da mente.

Gostaria de falar, esta manhã, sobre algo que pode ser bastante difícil, mas acho que vale a pena entender isso. Muito poucos de nós desfrutam de alguma coisa. Temos muito pouca alegria em ver o pôr do sol, a lua cheia, uma bela pessoa, uma bela árvore, um pássaro voando ou uma dança. Nós realmente não desfrutamos de nada. Nós olhamos para isso, nos divertimos ou aproveitamos superficialmente disso, temos uma sensação de que chamamos de “alegria”. Mas a alegria é algo muito mais profundo que deve ser compreendido e aprofundado.

Quando somos jovens, desfrutamos e deleitamos as coisas – jogos, roupas, na leitura de um livro ou na escrita de um poema, na pintura de um quadro ou empurrar um ao outro. Mas, à medida que envelhecemos, esse desfrute se torna uma dor, um esforço, uma luta. Enquanto somos jovens, desfrutamos a comida, mas à medida que envelhecemos começamos a comer alimentos fortemente carregados de condimentos, especiarias, e então perdemos todo o sabor, a delicadeza e o refinamento do paladar. Quando somos jovens, gostamos de observar animais, insetos, pássaros. À medida que envelhecemos, embora ainda queiramos desfrutar as coisas, o melhor de nós se foi, preferimos outros tipos de sensações – paixão, luxúria, poder, posição. Essas são todas as coisas normais da vida, embora sejam superficiais. Elas não devem ser condenadas, justificadas, mas devem ser compreendidas e colocadas em seu devido lugar. Se você as condena como sendo inúteis, sensacionais, como sendo estúpidas ou não-espirituais, você destrói todo o processo de viver. É como dizer: “Meu braço direito é feio, vou cortá-lo”. Somos feitos por todas essas coisas, temos que entender tudo, não condenar, não justificar.

À medida que envelhecemos, as coisas da vida perdem o sentido, nossas mentes ficam embotadas, insensíveis e assim por diante. Tentamos desfrutar, tentamos nos forçar a olhar para quadros, árvores, olhar as crianças brincando. Lemos algum livro sagrado ou outro e tentamos encontrar seu sentido, sua profundidade, seu significado, mas tudo isso é um esforço, uma labuta, algo com o qual lutar.

Acho muito importante entender essa coisa chamada “alegria”, o desfrutar das coisas. Quando você vê alguma coisa muito bonita, você quer possui-la, segurá-la, você quer chamá-la de seu: “É minha árvore, meu pássaro, minha casa, meu marido, minha esposa”. Nós queremos segurá-la e, nesse mesmo processo de segurar, a coisa que você desfrutou se foi, pois no próprio segurar há dependência, medo, há exclusão, e então a coisa que dava alegria, uma sensação de beleza interior, é perdida e a vida se torna fechada. Você considera a coisa como sendo pertencente a você, de modo que gradualmente o desfrutar se torna algo que você pode possuir, que você deve ter. Você gosta de fazer um ritual, fazer puja ou de ser alguém no mundo, você se contenta em viver na superfície, buscando uma sensação, um prazer atrás do outro. Essa é a nossa vida, não é? Você se cansa de um Deus e quer encontrar outro. Você muda o seu guru, se ele não o satisfaz, e então lhe diz: “Por favor, me leve a algum lugar”. Por trás de tudo isso está a busca por alegria. Você vive em um nível superficial e acha que pode ter alegria com isso.

Para conhecer a verdadeira alegria é preciso ir muito mais fundo. A alegria não é mera sensação. Ela requer um refinamento extraordinário da mente, mas não o refinamento do ego que reúne cada vez mais para si mesmo. Tal ego, tal pessoa nunca pode compreender esse estado de alegria no qual o desfrutador não está. É preciso entender essa coisa extraordinária, caso contrário a vida se torna muito pequena, trivial, superficial – nascer, aprender algumas coisas, sofrer, ter filhos, ter responsabilidades, ganhar dinheiro, ter um pouco de diversão intelectual e depois morrer. Essa é a nossa vida. Há muito pouco refinamento nas roupas, nas maneiras, nas coisas que comemos. Então, gradualmente, a mente se torna muito embotada.

É muito importante o que você come, mas você só gosta de comer coisas saborosas. Você gosta de se encher com um monte de alimentos desnecessários porque tem um bom sabor. Por favor, ouça tudo isso. É muito importante a maneira como você fala, caminha, a maneira como você olha para as pessoas. Examine sua mente, esteja atento, observe seus gestos, observe o significado da sua fala. Se você estiver realmente muito alerta, a mente se tornará muito sensível, refinada, simples. Sem essa simplicidade e refinamento a vida é muito superficial. Se você for além dessa superficialidade, haverá o refinamento do “eu”, mas o refinamento do “eu” é como estar fechado atrás de uma bela parede com muitas decorações e quadros. Esse refinamento do “eu” ainda não é alegria, pois nisso há dor, há sempre o medo de perder e a esperança de ganhar. Mas se a mente pode ir além do refinamento do ego, do “eu”, então existe um processo bem diferente em ação, no qual não há experienciador.

Tudo isso pode ser bastante difícil, mas não importa. Apenas ouça. Quando você envelhecer, essas palavras podem ter um sentido, um significado. Elas podem significar algo para você mais tarde, quando a vida lhe pressionar, quando a vida for difícil e cheia de sombras e lutas. Então, ouça isso como você ouviria uma música que você não entende bem. Apenas ouça.

Podemos passar de um refinamento para outro, de um requinte para outro, de um prazer para outro, mas no centro de tudo isso está o “eu”. O “eu” que desfruta, que quer mais felicidade, o “eu” que busca, procura, anseia pela felicidade, o “eu” que luta, o “eu” que se torna cada vez mais “refinado”, mas que nunca gosta de chegar ao fim. É somente quando o “eu” em todas as suas formas sutis chega ao fim que há um estado de bem-aventurança que não pode ser buscado, um êxtase, uma verdadeira alegria sem dor, sem corrupção. Agora, toda a nossa alegria, toda a nossa felicidade é corrupção, por trás disso há dor, há medo.

Quando a mente vai além do pensamento do “eu”, do experienciador, do observador, do pensador, há a possibilidade de uma felicidade que é incorruptível. Essa felicidade não pode ser permanente no sentido em que usamos essa palavra. Mas, nossa mente está buscando felicidade permanente, algo que dure, que continue. Esse mesmo desejo de continuidade é corrupção. Mas, quando a mente está livre do “eu”, há uma felicidade de momento em momento que vem sem a sua busca, em que na qual não há coleta, armazenamento, como colocá-la de lado. Não é algo que você pode segurar. Uma mente que diz: “Fui feliz ontem, e não estou feliz agora, mas serei feliz amanhã”, essa mente é uma mente comparativa e nela há medo. Ela está sempre copiando e descartando, ganhando e perdendo, portanto ela não é realmente uma mente feliz.

Se podemos compreender o processo da vida sem condenar, sem dizer que é certo ou errado, então acho que surge uma felicidade criativa que não é “sua” ou “minha”. Essa felicidade criativa é como a luz do sol. Se você quer manter o sol para si mesmo, então não é mais o sol claro, quente e vivificante. Da mesma forma, se você quer felicidade porque está sofrendo, porque perdeu alguém ou porque não teve sucesso, então isso é apenas uma reação. Mas, quando a mente pode ir além, então existe uma felicidade que não é da mente.

É muito importante, desde a infância, ter bom gosto, estar exposto à beleza, à boa música, à boa literatura para que a mente se torne muito sensível, não grosseira, não pesada. É preciso muita sutileza para compreender as profundezas reais da vida e é por isso que importa muito, enquanto somos jovens, como somos educados, o que comemos, que roupa vestimos, que tipo de casa moramos. Asseguro-lhes que a apreciação e o amor à beleza são muito importantes e que sem isso a verdadeira coisa nunca poderá ser encontrada. Mas passamos pela escola, pela vida brutalizados, disciplinados e chamamos isso de “educação”, chamamos isso de “viver”.

É muito importante, enquanto estamos nesta escola, olhar para o rio, para os campos verdes e para as árvores. Ter boa comida, mas não comida que seja muito saborosa, gostosa.  Não comer muito. Desfrutar dos jogos sem competição, não tentar ganhar pelo colégio, mas jogar por causa do jogo. A partir daí você descobrirá, se estiver realmente observando, que a mente se torna muito alerta, atenta, recolhida. E assim, à medida que você cresce, você é obrigado a desfrutar as coisas ao longo da vida. Mas, simplesmente permanecer no nível superficial do prazer e não conhecer a real profundidade da capacidade humana, é como viver em uma rua suja e tentar mantê-la limpa. Sempre será suja, deteriorada, sempre será corrupta. Mas se alguém pode, através do tipo certo de educação, saber pensar e ir além de todo pensamento, então há uma paz extraordinária, uma felicidade que a mente superficial, vivendo em sua própria felicidade superficial, nunca pode encontrar.

Vocês ouviram o que eu disse sobre comida, roupas e limpeza. Tente descobrir por si mesmo algo mais além disso. Veja se você consegue evitar de comer alimentos muito gostosos ou saborosos. Afinal, é apenas enquanto se é jovem que se pode ser revolucionário, não aos sessenta ou setenta. Talvez alguns de nós possamos ser, mas a grande maioria não é revolucionária. À medida que você envelhece, você se cristaliza. É somente quando se é jovem que há possibilidade de revolução, de revolta, de descontentamento.

Para ter essa revolta deve haver descontentamento durante toda a vida. Não há nada de errado com a revolta. O que está errado é encontrar um caminho que o satisfaça, que acalme o descontentamento.

Interrogante: Quando leio algo minha mente vagueia. Como faço para me concentrar?

Krishnamurti: Respondemos essa pergunta outro dia. Você sabe o que é concentração? Você sabe que você se concentra quando está assistindo uma dança que realmente gosta? Ouça o que estou dizendo. Ontem à noite, tivemos uma dança. Não sei se você estava assistindo. Quando você assistiu, você sabia que estava concentrado? Você sabia? Quando você está assistindo algo em que está interessado – dois touros lutando, um pássaro em voo ou dois barcos com a vela cheia indo no rio contra a corrente – você está consciente de que está concentrado? Você entende do que estou falando? Ouça.

Quando sua mente não está atraída por algo, quando você se força a ouvir uma música que realmente não gosta, então você está consciente de que está fazendo um esforço para ouvir. Esse esforço você chama de concentração. Mas se você ouvir com verdadeiro deleite, pois está realmente gostando da música, então toda a sua mente, todo o seu ser está nisso. Você não diz: “Bem, preciso me concentrar”. Você já está lá com o dançarino, você está quase dançando. Mas você vê, nós nunca olhamos, ouvimos ou lemos nada dessa maneira, nunca estamos interessados em algo tão completamente. Estamos apenas parcialmente interessados. Uma parte da mente diz: “Eu não quero ler este livro besta, é chato”. E a outra parte diz: “Tenho que ler, porque tenho que estudar para a prova”. Enquanto uma parte diz que você deve ler, a outra parte que sabe que o livro é terrivelmente chato se afasta. Então você tem uma luta e diz: “Eu devo começar a me concentrar”.

Realmente, você não precisa aprender a se concentrar. Por favor, escute isso. Não se force a se concentrar, mas esteja interessado, ame o que você está fazendo por si mesmo. Quando você pintar, pinte por si mesmo, quando você olhar para uma dança, aprecie-a, olhe para ela, veja a beleza dela para que sua mente não seja dividida em partes diferentes, para que a mente seja uma coisa inteira, uma coisa completa. Para que não haja um olhar fracionário com uma mente que esteja dividida em partes diferentes e que diga: “Eu devo olhar”.

O importante não é a concentração, mas o amor pela coisa. O próprio amor pela coisa por si mesma traz uma energia surpreendente, uma energia que é atenção. Sem isso, o seu aprendizado, o seu olhar não tem significado e você simplesmente passa nas provas ou se torna um funcionário glorificado.

Interrogante: É verdade que o eclipse lunar afeta nossa vida? Se afeta, por que é assim?

Krishnamurti: Se você é um lunático, se você for um pouco desequilibrado, isso pode afetá-lo. Eu não vejo outra forma como isso pode afetar.

Essa questão abre o problema da superstição. Você vive em uma sociedade entre pessoas religiosas que dizem: “O eclipse lunar afeta a mente”. Eles têm todos os tipos de teorias, e você é educado com elas. Você vê como todos esses peregrinos, milhares deles, se reúnem e se banham no Sangam e no Ganges. Quando milhares de pessoas pensam em algo cria-se uma atmosfera, não é? Nessa atmosfera, nessa atividade, a criança observa e fica impressionada. Quando você é jovem, a mente é sensível como uma placa fotográfica que absorve. É por isso que o tipo de atmosfera em que você vive é muito importante. Mas nós não prestamos atenção em tudo isso. Vivemos neste mundo caótico, sombrio e miserável de forma superficial. Você ouve os idosos dizerem: “O eclipse lunar afeta sua vida”, e você aceita. Você não questiona, não pensa por si mesmo.

Pensar de forma simples é muito difícil, porque a mente não é simples, a mente inventa, cria todo tipo de ilusão, mistério e fica presa nisso. Ter uma mente simples é realmente compreender a complexidade da vida. Você não pode simplesmente negar a complexidade da vida e dizer: “Eu tenho uma mente simples”. Uma mente simples não é algo a ser cultivado, isso surge quando você compreende a complexidade da existência.

Interrogante: Qual é o objetivo de nossa vida?

Krishnamurti: Qual é o significado da vida? Qual é o propósito da vida?

Por que você faz tal pergunta? Você faz essa pergunta quando, em você, há caos e sobre você existe confusão, incerteza. Sendo incerto, você quer algo que seja certo. Você quer um determinado propósito na vida, um objetivo definido, porque em si mesmo você é incerto. Você é miserável, confuso, não sabe o que fazer. A partir dessa confusão, dessa miséria, dessa luta, desses medos, você diz: “Qual é o propósito da vida?” Você quer algo permanente pelo qual possa lutar, e a própria luta por um objetivo cria sua própria falsa clareza, que é apenas outra forma de confusão.

O importante não é qual é o objetivo da vida, mas compreender a confusão em que se está, a miséria, as lágrimas e todas as outras coisas. Não entendemos a confusão, mas apenas queremos nos livrar dela. A coisa real está aqui, não lá. Um homem que se preocupa com a compreensão de toda essa confusão não pergunta qual é o propósito da vida. Ele está preocupado com o esclarecimento da confusão, do sofrimento em que ele está preso. Quando isso é esclarecido, ele não faz uma pergunta como essa. Você não pergunta: “Qual é o propósito da luz do sol? Qual é o propósito da beleza? Qual é o propósito de viver?” É somente quando a vida se torna uma miséria, uma batalha constante, e quando você quer fugir dessa miséria, dessa batalha, é que você diz: “Diga-me qual é o objetivo da vida”. Aí você vai atrás de várias pessoas, migra de um professor para outro tentando descobrir qual é o propósito da vida. Eles lhe dirão, embora sejam igualmente insensatos. Você só poderá escolher um guru que esteja tão confuso quanto você, e dele você obterá o que deseja.

Se você puder entender a confusão, a luta, a miséria, os anseios profundos que você tem, então, nesse mesmo entendimento, você encontrará algo no qual você não precisará perguntar a outro.

Interrogante: Por que choramos?

Krishnamurti: Você sabe, há lágrimas de alegria e lágrimas de dor. As lágrimas de alegria são muito raras. Quando você ama alguém, as lágrimas vêm aos seus olhos, mas isso é uma coisa muito rara. Isso não acontece conosco, porque não amamos. À medida que envelhecemos, nos tornamos cada vez mais sérios. Conhecemos pelo menos a gravidade da frustração, a gravidade da miséria sem solução na vida – cuja profundidade não foi vista, desfrutada, conhecida. A maioria de nós derramou lágrimas – a criança pequena e a pessoa idosa. Sabemos o que essas lágrimas significam – as lágrimas de dor, de perder algo, de perder uma pessoa, de não ter sucesso, de não ter um casamento feliz. Sabemos de todas essas coisas. Mas compreender e ir além de tudo isso, ir além de cada pensamento, requer uma grande dose de insight.

Interrogante: Como podemos lidar com o inconsciente?

Krishnamurti: Essa pergunta não foi feita por uma pessoa adulta, mas por uma criança. Uma criança não sabe nada sobre o inconsciente. Tudo que ela sabe é jogar um jogo, aprender matérias, importunar as pessoas ao seu redor, sentir fome, medo e assim por diante.

Você é uma criança e não se pode observar muito enquanto se é jovem. Mas mesmo que você observe um pouco, você descobrirá que há várias coisas acontecendo sob as ondulações superficiais de sua mente. Você já observou o rio? Você sabe, há uma vida surpreendente acontecendo dentro do rio, nas profundezas. Um francês desceu a uma grande profundidade debaixo d’água e encontrou uma vida surpreendente, peixes que você nunca viu, cores totalmente inimagináveis, escuridão incrível, silêncio que é impenetrável. Mas conhecemos apenas as pequenas ondulações que agitam a água, apenas as correntes na superfície do rio. Mas se formos mais fundo – existem maneiras artificiais de ir ao fundo – então você pode ver o número de peixes, a variedade da vida, os estranhos acontecimentos dentro da água.

Da mesma forma, para ver abaixo da superfície da mente, abaixo das ondulações dela e de todas as suas atividades, você deve ser capaz de entrar no fundo da mente. É importante saber que a mente não é apenas uma pequena camada de atividade superficial, que você não está meramente estudando para passar nas provas, não apenas seguindo alguma tradição na questão de como se vestir, fazer puja ou qualquer outra coisa.

Para ir além das atividades superficiais, você deve ter uma mente que possa entender como ir fundo. Penso que essa é uma das funções da educação, não se ocupar apenas com a superfície, seja ela bela ou feia, mas ser capaz de ir ao fundo, como o mergulhador com seu traje de mergulho, para que nas profundezas você possa respirar livremente, para que você possa descobrir, nessas profundezas, todas as complexidades da vida, as limitações, as flutuações, as variedades de pensamentos, porque em si mesmo você é tudo isso, e então ir além de tudo isso, transcender tudo isso.

Você não pode ir muito fundo se você não conhece a superfície da sua mente. Para conhecer a superfície é preciso observar. A mente tem que observar a maneira como veste a roupa, como coloca um cordão sagrado, como faz puja e entender o porquê. Então, você pode ir ao fundo, mas para ir ao fundo, você deve ter uma mente muito simples. É por isso que uma mente que é mantida em conclusões, em condenação, em comparação, nunca pode ir além de suas próprias atividades superficiais.

Interrogante: Como devemos observar as coisas?

Krishnamurti: O que importa não é como se deve observar, mas como você realmente observa.

Você não sabe como observar. Muitas pessoas lhe dirão como, apenas aceitar isso seria estupidez. Você tem que descobrir como você realmente vê as coisas. Você já considerou como você olha para as coisas? Como você olha para uma árvore? Você olha para ela completamente ou imediatamente você dá um nome à árvore, olha para ela casualmente e se afasta? Quando você dá um nome, sua mente já se desviou. Se você olhar para um papagaio, você observa o bico vermelho, as garras, a forma curiosa como ele voa? Apenas assista e enquanto você assiste, você observa e aprende a ver. No momento em que você diz que o pássaro é um papagaio, sua mente já se desviou da observação.

Nós nunca olhamos para nada livremente, completamente, porque não observamos sem comparar. Nós dizemos: “Esse pássaro não é tão bonito quanto o outro pássaro. Essa árvore não é tão alta ou tão magnífica quanto a outra árvore.” Nós também lhe damos um nome. O processo de comparação está acontecendo o tempo todo. Somente a mente que realmente observa pode olhar sem esse processo. É dessa forma que uma coisa deve ser observada. Quando você ouve dizer que se deve olhar sem comparação, sem nomear, então você vai lutar para olhar dessa maneira, mas não tente ver dessa forma. Apenas veja como você olha para um belo objeto, como você compara, como você julga. Apenas observe como sua mente está sempre vagando, nunca olhando completamente. Para olhar, a mente deve estar quieta, sem vagar, sem se desviar. 

19/01/1954