10ª Palestra em Ojai

Existe um estado duradouro de tranquilidade criativa? Há um fim para a aparentemente interminável disputa dos opostos? Existe um êxtase imperecível?

O fim do conflito e do sofrimento está na compreensão e transcendência dos caminhos do ego e na descoberta desta imperecível realidade que não é criação da mente. O autoconhecimento é árduo, mas sem ele a ignorância e a dor continuam: sem autoconhecimento não pode haver fim para a luta.

O mundo está estilhaçado em muitos fragmentos, cada um em luta com o outro; ele está arrebentado pelo antagonismo, ganância, e paixão; está separado por ideologias antagônicas, crenças e medos; nem a religião organizada nem a política podem trazer paz ao homem. O homem está contra o homem e as muitas explicações para seu sofrimento não afastam sua dor. Tentamos fugir de nós mesmos de muitas formas ardilosas, mas a fuga só embota e endurece a mente e o coração. O mundo exterior não é nada mais do que a expressão de nosso próprio estado interior; como estamos fragmentados e arrebentados interiormente por desejos ardentes, também o mundo a nossa volta está; como há incessante confusão dentro de nós, também há infindável conflito no mundo; como não existe tranquilidade interior, o mundo se tornou um campo de batalha. O que somos o mundo é.

Existe a possibilidade de encontrar alegria duradoura? Existe, mas para experimentá-la deve haver liberdade. Sem liberdade a verdade não pode ser descoberta, sem liberdade não pode haver a experiência do real. A liberdade deve ser buscada – liberdade de salvadores, mestres, líderes; liberdade dos muros fechados de bem e mal; liberdade da autoridade e da imitação; liberdade do ego, a causa do conflito e da dor.

Enquanto o anseio em suas diferentes formas não for compreendido, haverá conflito e dor. O conflito não é para ser cessado por meio da correção superficial de valores nem pela mudança de mestres e líderes. A solução definitiva está na liberdade do anseio; o caminho está em você mesmo, não em outra pessoa. A incessante batalha dentro de todos nós, que chamamos existência, não pode chegar ao fim a não ser pela compreensão e transcendência do anseio.

O conflito da avidez aparece no conhecimento, na relação, nas posses; a avidez sob qualquer forma cria desigualdade e brutalidade. Esta divisão e conflito entre homem e homem não vai ser abolida por meio da simples reforma dos efeitos externos e valores. A igualdade de posses não é a saída para a miséria e estupidez extensiva que nos envolve; nenhuma revolução pode libertar o homem deste espírito de exclusividade. Você pode despojá-lo de posses pela legislação, pela revolução, mas ele vai se agarrar à relação ou crença exclusiva. Esse espírito de exclusividade em diferentes níveis não pode ser abolido por nenhuma reforma exterior ou por compulsão ou sujeição. E é esse espírito de exclusividade que gera desigualdade e disputa. A ganância não coloca o homem contra o homem? A igualdade e a compaixão podem ser estabelecidas por algum meio da mente? Elas não devem ser buscadas em algum outro lugar? Essa separatividade não cessa apenas no amor, na verdade?

A unidade do homem é encontrada apenas no amor, na iluminação que a verdade traz. Essa unidade do homem não vai ser estabelecida por meio de simples reajustes econômicos e sociais. O mundo está sempre ocupado com esses reajustes superficiais; ele está sempre tentando reorganizar valores dentro do padrão da ganância; procura estabelecer segurança na insegurança do anseio e, assim, traz desastre sobre si. Esperamos que a revolução exterior, a mudança exterior de valores transformará o homem; elas o afetam, mas a ganância, encontrando gratificação em outros níveis, continua. Este movimento infindável e inútil de ganância não pode trazer paz ao homem de modo algum, e só quando ele se libertar disso pode haver ser criativo.

A ganância cria divisão entre os que estão à frente e os que estão atrás. Você deve ser tanto discípulo quanto Mestre na busca da verdade; deve fazer a abordagem diretamente sem o conflito de exemplo e seguidor. Deve haver persistente consciência de si, e quanto mais sério e vigoroso você for, mais o pensamento se libertará das dependências por ele criadas.

Na alegria do real o experimentador e a experiência cessam. Uma mente-coração sobrecarregada com a memória de ontem não pode viver no presente eterno. A mente-coração deve morrer todo dia para ser eterna.

Interrogante: Eu sinto que, pelo menos para mim, o que você diz é uma coisa nova e muito vitalizante, mas o velho se introduz e distorce. Parece que o novo é subjugado pelo passado. O que se faz?

Krishnamurti: O pensamento é o resultado do passado atuando no presente; o passado está constantemente afastando o presente. O presente, o novo, é sempre absorvido pelo passado, pelo conhecido. Para viver no presente eterno deve haver a morte para o passado, para a memória; nessa morte está a renovação eterna.

O presente se estende para o passado e para o futuro; sem a compreensão do presente, a porta para o passado fica fechada. A percepção do novo é muito transitória; mal ela é sentida, a rápida corrente do passado se espalha e o novo deixa de existir. Morrer para os muitos ontens, renovar-se a cada dia, só é possível se formos capazes de estar passivamente conscientes. Nessa conscientização passiva não existe acúmulo pessoal; existe intensa quietude onde o novo se revela, onde o silêncio está sempre se expandindo sem medida.

Tentamos usar o novo como meio de romper ou fortalecer o passado corrompendo assim o presente vivo. O presente renovador traz a compreensão do passado. É o novo que dá compreensão, e sob essa luz o passado tem significação nova, viva. Quando ouvimos ou experimentamos alguma coisa nova, nossa reação instintiva é comparar com o antigo, com a experiência passada, com uma memória passageira. Essa comparação dá força ao passado, distorcendo o presente e, assim, o novo sempre se torna o passado, o morto. Se o pensamento-sentimento fosse capaz de viver no agora sem distorcê-lo, então o passado se transformaria no presente eterno.

Para alguns de vocês estas palestras e debates podem ter trazido uma compreensão nova e vital; o importante não é colocar o novo dentro dos velhos padrões de pensamento ou frase. Deixe-o permanecer novo, não contaminado. O desejo de fazer o presente criativo duradouro, prático, ou útil torna-o inútil. Deixe o novo viver sem estar ancorado ao passado, sem a influência distorcida de medos e esperanças.

Morra para sua experiência, para sua memória. Morra para seu preconceito, agradável ou desagradável. Na sua morte está o incorruptível; esse não é um estado de inexistência, mas o ser criativo. É essa renovação que, se for permitida, dissolverá nossos problemas e sofrimentos, mesmo intrincados e dolorosos. Só na morte do ego existe vida.

Interrogante: Você acredita em karma?

Krishnamurti: O desejo de crer devia ser compreendido e afastado, pois não traz iluminação. Aquele que busca a verdade não crê; aquele que aborda a verdade não tem dogma ou credo; aquele que busca o eterno deve estar livre de formulação e da qualidade da memória presa ao tempo. Quando cremos não buscamos, e a crença traz dúvida e dor. Busca para compreender, não para saber; pois na compreensão o processo dual de quem conhece e do conhecido cessa. Na mera busca de conhecimento, quem conhece está sempre se tornando e sempre em conflito e sofrimento. Quem afirma saber não sabe.

A origem da palavra sânscrita karma significa agir, fazer. A ação é resultado de uma causa. A guerra é o resultado de nossa vida cotidiana de estupidez e má vontade e ganância; conflito e sofrimento é a conseqüência da confusão interior de nosso anseio. Nossa existência não é produto do condicionamento encadeado? A causa sempre passa por uma modificação, e a conscientização vigilante não só revela a causa, mas também liberta o pensamento-sentimento dela. O efeito pode ser separado da causa? Nós desejamos reformar, reorganizar os efeitos sem alterar a causa radicalmente. Esta ocupação com o efeito é uma forma de fugir da causa básica.

Como o fim está no meio, também o efeito está na causa. Comparativamente, é fácil descobrir a causa superficial, mas descobrir e transcender o anseio, que é a causa profunda de todo condicionamento, é árduo e exige constante conscientização.

Interrogante: Existe não só o medo da vida, mas o medo da morte é grande. Como dominá-lo?

Krishnamurti: O que é conquistável tem que ser conquistador vezes e vezes. O medo só chega ao fim com a compreensão. O medo da morte está no anseio por auto-realização; somos vazios e ansiamos por inteireza, então há medo; desejamos realização e receamos que a morte possa nos chamar. Desejamos tempo para compreender, a realização da ambição exige tempo, e por isso temos medo da morte. Estamos na dependência do tempo; a morte é o desconhecido, e temos medo do desconhecido. O medo e a morte são os parceiros da vida. Ansiamos pela garantia da autocontinuidade. O pensamento-sentimento sai do conhecido para o conhecido e sempre tem medo do desconhecido. O pensamento-sentimento vai de acumulação para acumulação, de memória para memória, e o medo da morte é o medo da frustração.

Porque somos como o morto, tememos a morte; o vivo não. O morto está sobrecarregado pelo passado, pela memória, pelo tempo, mas para o vivo o presente é o eterno. O tempo não é um meio para o fim, o infinito, pois o fim está no início. O ego tece a rede do tempo e o pensamento fica preso nela. A deficiência do ego, seu doloroso vazio, causa o medo da morte e da vida. Esse medo está sempre conosco – em nossas atividades, nossos prazeres, e dor. Estando mortos, buscamos vida, mas a vida não é encontrada por meio da continuidade do ego. O ego, o criador do tempo, deve se render ao infinito.

Se a morte for verdadeiramente um problema para você, não simplesmente uma questão verbal ou emocional nem um assunto de curiosidade que pode ser satisfeito com explicações, então haverá profundo silêncio em você. Na quietude ativa o medo cessa, o silêncio tem sua própria aceleração criativa. Você não transcende o medo por meio da racionalização, pelo estudo das explicações; o medo da morte não chega ao fim por alguma crença, pois a crença pertence ainda à rede do ego. O próprio ruído do ego impede sua dissolução. Nós consultamos, analisamos, oramos, trocamos explicações; essa atividade incessante e ruído do ego obstruem a alegria do real. Ruído só pode produzir mais ruído e nisso não existe compreensão.

A compreensão vem quando todo o seu ser está profundamente e silenciosamente consciente. A conscientização silenciosa não é forçada ou induzida; nesta tranquilidade a morte cede à criação.

Interrogante: Nunca me ocorreu pensar em mim mesmo como sendo capaz de alcançar a libertação. O máximo que posso conceber é que talvez eu seja capaz de segurar e fortalecer esta inteiramente incompreensível relação com Deus, que é a única coisa por que vivo; e eu nem mesmo sei o que é isso.

Você fala sobre ser e se tornar. Percebo que essas palavras significam fundamentalmente atitudes diferentes; e a minha tem sido definitivamente o se tornar. Agora eu quero transformar o que tem sido se tornar em ser. Estou me iludindo? Eu não quero simplesmente trocar palavras.

Krishnamurti: Primeiro devemos compreender o processo de se tornar e todas as suas implicações antes de podermos compreender o que é ser. A estrutura de nosso pensamento-sentimento não se baseia no tempo? Não pensamos-sentimos em termos de ganhar e perder, de se tornar e não se tornar? Consideramos que a realidade ou Deus é para ser alcançada através do tempo, do se tornar. Consideramos que a vida é uma infinita escada para subirmos a maiores e maiores alturas. Nosso pensamento-sentimento está preso no processo horizontal de se tornar; quem se torna está sempre acumulando, sempre ganhando, sempre se expandindo. O ego, o que se torna, o criador do tempo, não pode vivenciar o infinito. O ego, o que se torna, é a causa do conflito e do sofrimento.

O se tornar leva ao ser? Por meio do tempo pode haver o infinito? Por meio do conflito pode haver tranquilidade? Por meio da guerra, do ódio, pode haver amor? Só quando o se tornar cessa, pode haver o ser; por meio do processo horizontal do tempo não existe eterno; o conflito não leva à tranquilidade; o ódio não pode se transformar em amor. Quem se torna nunca pode estar tranqüilo. O anseio não pode àquilo que está além e acima de todo anseio. A corrente do sofrimento só é rompida quando quem se torna deixa de se tornar, positivamente ou negativamente.

Agora quem se torna deseja traduzir seu se tornar em ser. Ele talvez veja a futilidade do se tornar e deseja transformar esse processo em ser; em vez de se tornar, agora ele deve ser. Ele vê a dor da ganância e agora deseja transformar ganância em não-ganância, o que é ainda um se tornar; ele assumiu uma nova atitude, um novo traje chamado não-ganância; mas quem se torna continua a se tornar. Este desejo de traduzir o se tornar em ser não leva à ilusão? Quem se torna talvez agora perceba o conflito infindável e o sofrimento envolvido em se tornar e, assim, anseia por um estado diferente que ele chama ser; mas o anseio continua sob novo nome. Os caminhos do se tornar são muito sutis, e até quem se torna se conscientizar deles, continuará a se tornar, viver em conflito e sofrimento. Mudando palavras pensamos que compreendemos, e como nos pacificamos facilmente!

Ser existe apenas quando não há esforço, positivo ou negativo, para se tornar; só quando quem se torna está consciente de si e compreende o sofrimento encadeado e o esforço gasto em se tornar, e não usa mais a vontade, só então ele pode ficar em silêncio. Seu desejo e sua vontade se apaziguaram; só então existe a tranquilidade da suprema sabedoria. Se tornar não-ganancioso é uma coisa e ser sem ganância é outra; se tornar implica um processo, mas ser não. Processo implica tempo; o estado de ser não é um resultado, não é produto de educação, disciplina, condicionamento. Você não pode transformar barulho em silêncio; o silêncio só pode surgir quando o barulho cessa. Resultado é um processo de tempo, um fim determinado por um meio determinado; mas por meio de um processo, pelo tempo, o infinito não existe. A consciência de si e a meditação correta revelarão o processo do se tornar. A meditação não é o cultivo de quem se torna, mas pelo autoconhecimento quem medita, quem se torna cessa.

Interrogante: Se considerarmos apenas o significado óbvio de suas palavras, a memória se constitui em um dos mecanismos contra os quais você nos advertiu vezes e vezes. E, contudo, você mesmo, por exemplo, algumas vezes usa anotações para ajudar sua memória na reconstrução de notas introdutórias que você, obviamente, pensou previamente. Existe um tipo de memória necessária e mesmo indispensável relacionada com o mundo exterior dos fatos e imagens, e um tipo inteiramente diferente de memória que deve ser chamada memória psicológica, que é prejudicial porque interfere com a atitude criativa que você sugeriu em expressões como “abandonar”, “morrer a cada dia”, etc.?

Krishnamurti: Memória é experiência acumulada, e o que está acumulado é o conhecido e aquilo que é conhecido faz parte do passado sempre. Com o fardo do conhecido pode aquilo que é infinito ser descoberto? A liberdade do passado não é necessária para se experimentar o que é imensurável? Aquilo que é construído, ou seja, memória, não pode compreender aquilo que não é. Sabedoria não é memória acumulada, mas é a suprema vulnerabilidade ao real.

Como aponta o interrogante, não deveríamos estar conscientes dos dois tipos de memória – a indispensável, relacionada aos fatos e imagens, e a memória psicológica? Sem essa memória indispensável não poderíamos nos comunicar uns com os outros. Nós acumulamos e nos agarramos às memórias psicológicas e, assim, damos continuidade ao ego; e o ego, o passado, está sempre crescendo, sempre acrescentando a si mesmo. É essa memória acumulada, o ego, que deve chegar ao fim; enquanto o pensamento-sentimento se identificar com as memórias de ontem, estará sempre em conflito e sofrimento; enquanto o pensamento-sofrimento estiver se tornando, ele não poderá experimentar a alegria do real. Aquilo que é real não é a continuação da memória identificada. De acordo com o que foi armazenado, se experimenta; de acordo com o próprio condicionamento e memórias psicológicas e tendências são as experiências, mas tais experiências são sempre fechadas, limitadas. É para essa acumulação que se deve morrer.

A experiência do real se baseia na memória, na acumulação? É possível ao pensamento-sentimento ir além e acima desses níveis inter relacionados da memória? Continuidade é memória, e é possível para essa memória cessar e um novo estágio surgir? Pode a consciência educada e condicionada compreender aquilo que não é um resultado? Não pode e, por isso, deve morrer para si mesma. A memória psicológica, sempre lutando para se tornar, cria resultados, barreiras, e por isso está sempre se escravizando.

A verdade não é para ser formulada nem pode ser descoberta por meio de alguma formulação ou alguma crença; só quando existe liberdade do se tornar, da memória auto-identificada, ela surge. Nosso pensamento é o resultado do passado, e sem compreender seu condicionamento, ele não pode ir além de si mesmo. O pensamento-sentimento se torna escravo de sua própria criação, de seu próprio poder de ilusão, se não tem consciência de seus próprios caminhos. Só quando o pensamento cessa de formular pode haver criação.

Interrogante: As imagens de santos, Mestres, não nos ajudam a meditar corretamente?

Krishnamurti: Se você tiver que ir para o norte, por que olhar em direção ao sul? Se quiserem ser livres, por que se tornarem escravos? Você deve conhecer a sobriedade por meio da embriaguez? Deve ter tirania para conhecer a liberdade?

Como a meditação é da maior importância, devemos abordá-la corretamente desde o início. Meios corretos criam fins corretos; o fim está nos meios. Meios errados produzem fins errados, e em nenhum momento meios errados produzirão fins corretos. Matando outra pessoa, você produzirá tolerância e compaixão? Só meditação correta pode produzir compreensão correta. É essencial que aquele que medita compreenda a si mesmo, não os objetos de sua meditação, pois quem medita e sua meditação são uma coisa só, não separados. Sem se compreender, a meditação se torna um processo de auto-hipnose induzindo experiências de acordo com o condicionamento da pessoa, sua crença. O sonhador deve compreender a si mesmo, não seus sonhos; ele deve despertar e dar um fim a eles. Se quem medita estiver em busca de um fim, um resultado, ele irá se hipnotizar por seu desejo. A meditação é, muitas vezes, um processo de auto-hipnose; ela pode produzir certos resultados desejados, mas tal meditação não traz iluminação.

O interrogante quer saber se exemplos ajudam a meditar corretamente. Eles podem ajudar a se concentrar, focalizar a atenção, mas tal concentração não é meditação. Simples concentração, embora enfadonha, é comparativamente fácil, mas e daí? Quem se concentra ainda é o que é, apenas adquiriu uma nova faculdade, um novo meio através do qual pode funcionar, apreciar, e não fazer mal. Qual o valor da concentração se aquele que se concentra é sensual, mundano, e estúpido? Ele ainda fará mal; ainda criará animosidade e confusão. A simples concentração estreita a mente-coração, que só reforça seu condicionamento, causando credulidade e obstinação. Antes de aprender a se concentrar, compreenda a estrutura de todo o seu ser, não apenas de uma parte dele. Com a consciência de si vem o autoconhecimento, o pensar correto. Essa consciência de si ou compreensão cria sua própria disciplina e concentração; esta disciplina flexível é duradoura, efetiva, não a disciplina auto-imposta da ganância e da inveja. A compreensão sempre se amplia e aprofunda na conscientização extensiva; essa conscientização é essencial para a meditação correta. A meditação do coração é compreensão.

Usamos exemplos como um meio de inspiração. Por que buscamos inspiração? Como nossas vidas são vazias, estúpidas e mecânicas nós buscamos inspiração fora de nós. O Mestre, o santo, o salvador se tornam uma necessidade, uma necessidade que nos escraviza. Estando escravizado, você tem que se libertar de sua ligação para descobrir o real, pois o real só pode ser experimentado em liberdade.

Porque você não está interessado no autoconhecimento, procura outras inspirações, o que é outra forma de distração. O autoconhecimento é um processo de descoberta criativa que é obstruído quando o pensamento-sentimento está preocupado com o ganho. A ganância por um resultado impede o florescimento do autoconhecimento. A busca em si é devoção, é inspiração. A mente que fica se identificando, comparando, julgando logo se esgota e precisa de distração, chamada inspiração. Toda distração, nobre ou outra, é idolatria. Mas se aquele que medita começa a compreender a si mesmo, então sua meditação tem grande significação. Pela conscientização de si e autoconhecimento vem o pensar correto; só então o pensamento pode ir além e acima das camadas condicionadas da consciência. Meditação então é ser, que tem seu próprio movimento eterno; é criação em si mesma, pois quem medita deixou de ser.

29 de julho de 1945